O momento eleitoral em Mato Grosso do Sul tem chamado a minha atenção por um fato curioso: a fúria manifestada por eleitores nas redes sociais contra a candidatura ao senado do jornalista Antonio João Hugo Rodrigues. É certo que todos os candidatos, em todos os níveis, sofrem ataques diversos, mas contra o “dono” do Correio do Estado parece haver certa neurastenia coletiva. Como não sou usuário dos instrumentos da rede acompanho as postagens aqui e ali, ouço comentários e leio o chamado colunismo de fofocas. Noto que Antonio João traz à tona instintos primitivos que transformam alguns seres humanos em chipanzés. Ele tem sido muito agredido. Em reação, muitas vezes agride seus contendores sem nenhuma delicadeza. Do ponto de vista político, essa disputa virtual tem sido inútil; por enquanto, AJ tem pontuado pouco nas pesquisas de opinião, o que mostra que não oferece perigo, não precisando passar por nenhum processo de desconstrução de seus adversários. Mesmo assim, sua possível derrota tem sido comemorada pelos seus desafiantes e adversários como se tratasse de batalhas pessoais. É uma relação de ódio que se autoalimenta na medida em que interesses em conflito vão se acumulando no processo eleitoral. Não sou amigo de Antonio João. Não fui. E nunca serei. Mas repudio a maneira pela qual uma parcela de formadores de opinião o ataca. Ele não pode ser condenado moralmente por ser um empresário proativo. Ele escolheu ser candidato ao senado num quadro de legitimidade democrática irretocável, e não tem feito nada que ultrapasse os limites da lei. Nos seus programas eleitorais ele faz o que lhe cabe: critica seus oponentes e lança propostas generalizantes. Ofendê-lo grosseiramente, inventando histórias falsas a seu respeito, fomentando folclore com intuito de demonizá-lo só revela o obscurantismo ressentido que ronda a nossa sociedade. Ele não é santo. Tampouco é um monstro. Tem qualidades e defeitos como qualquer um de nós. Tentar desumanizá-lo revela traços autoritários de pessoas que não sabem que, muitas vezes, o melhor ataque é a indiferença. Se AJ incomoda é porque muita gente se identifica transversalmente (palavra da moda) com seu modo de ser. Ele escolheu a polêmica como maneira de se inserir nas coisas da vida e isso, sob muitos aspectos, é positivo, principalmente na atividade política. Mas seus detratores não o perdoam. Trabalhei com Antonio João por mais de 5 anos. Posso testemunhar várias coisas a seu favor: é bom patrão, cumpre promessas, fala objetivamente o que pensa, defende com unhas e dentes seus profissionais, não engana, não falseia, é inteligente - e sabe, como qualquer empresário, proteger seus interesses. Mesmo assim, AJ tem fama de sujeito mau e arrogante. Isso é muito comum em relação àqueles que dirigem órgãos de imprensa influentes. O veículo que comanda acaba se transformando, com o tempo, numa extensão de sua personalidade. Para muitos desavisados talvez o problema seja esse: o temperamento forte, muitas vezes oscilante, o modo irascível de ser que transborda da esfera privada e ganha o espaço público nas diversas polêmicas que fomenta, e que termina adquirindo uma relevância que ultrapassa a dimensão humana e obnubila o julgamento racional das pessoas que não o conhecem. Assim, a lenda que se formou em torno do homem abre, agora, com a sua candidatura ao senado, uma oportunidade especial para aniquila-lo, desmoraliza-lo e humilha-lo. Assim pensam seus contendores e inimigos. Bobagem. O poder de AJ não é dessa esfera. Seu verdadeiro poder é o de construir e destruir reputações com o jornal que comanda. E isso perturba muita gente. Reconheço que, com o tempo, AJ transformou-se num personagem caricato. Quem conviveu diariamente com ele como profissional sabe que essa mitologia do todo-poderoso meio folclórica é cultivada e amplificada por ilusionistas baba-ovos que o cercam. Mas, asseguro: é tudo fantasia. Nos seus bons momentos, AJ chega a ser um sujeito engraçado, generoso e libertário. Nos maus, é ríspido com tendência a chiliques. Ou seja: um ser humano normal. Com seus humores e temores. Nessa linhagem, ele é muito parecido com o governador André Puccinelli. Mas sua candidatura ao senado vem dando nova relevância ao personagem que foi criado em torno de si. Pesquisas mostram que sua taxa de conhecimento político é baixíssima e que ele não ultrapassará os patamares atuais. Mesmo assim é provável que ele saia dessa campanha mais influente. Eleição não é concurso de miss simpatia nem pré-requisito para a escolha do próximo Dalai Lama. Até onde a vista alcança sou da opinião de que Antonio João tem perfil para ser um bom senador. Quem observa de perto sua campanha fica impressionado com a organização e profissionalismo. A falta de carisma e inserção pessoal é outro departamento. Nada justifica que ele continue a ser atacado da maneira injusta e grosseira como vem sendo.
DANTE FILHO - Jornalista
FONTE MIDIAMAX
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