Safra 2014/15 terá oferta 14,7% superior
O Plano de Safra 2014/2015, anunciado pelo governo no início de julho, prevê um desembolso de R$ 156,1 bilhões para os produtores rurais, valor 14,7% maior do que o oferecido na safra anterior, apesar da expectativa de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
O crédito tem como objetivo dar sustentação a uma produção de 200 milhões de toneladas, um crescimento de 4,6% em relação à safra passada.
Do volume total de crédito previsto para esta safra, R$ 112 bilhões serão destinados a custeio e comercialização e outros R$ 44,1 bilhões para investimentos, com taxas de juro que variam de 3% a 7,5% ao ano.
Executivos das principais instituições financeiras do país revelam que nos últimos dez anos o governo conseguiu suprir a necessidade de crédito dos produtores, evitando gargalos na hora da produção. Os governos promoveram um ciclo virtuoso no crédito para o setor, que não mais bloqueia estradas e invade agências bancárias reclamando da falta de dinheiro para se investir na produção. "Não vemos isso acontecer há pelo menos dez anos", lembra Guilherme Cassel, vice-presidente do Banrisul e diretor de crédito. "Nos últimos anos o aumento do crédito para o setor rural sempre foi maior que o crescimento do PIB. A oferta de crédito é maior que a demanda. A preocupação do governo federal foi sempre oferecer volume de crédito superior à demanda para não ter gargalo em pleno período de plantio."
Mas a intenção do governo é pulverizar os recursos de modo a impedir a concentração na mão de poucos produtores. Isso porque, segundo explica Walmir Fernandes Segatto, superintendente comercial de agronegócios do Santander, a demanda do setor por crédito é ainda maior que o Plano Safra.
Segundo ele, esse aumento de 14,7% "vem ao encontro do crescimento da área plantada e para fazer frente ao aumento de custos dos produtores. Por outro lado, apesar do recurso ser farto, representa um pedaço, o setor como um todo demanda mais que isso. O crédito oficial cumpre com parte do ciclo agrícola, e o produtor busca recursos nas safras anteriores ou tradings, fazendo a antecipação de vendas futuras", afirma.
No Rio Grande do Sul, Guilherme Cassel conta que o Banrisul prevê liberar R$ 2,5 bilhões neste plano safra, um aumento de 20,13% em relação aos R$ 2,081 bilhões liberados na safra anterior. Segundo ele, houve em dez anos o fortalecimento da agricultura e da pecuária, com a atuação do banco em financiamentos com juros incomparáveis em relação ao tomado pelos setores de serviço e comércio. Hoje, tanto a agricultura familiar quanto a em larga escala são bem servidas de crédito no Estado, afirma.
São 420 mil famílias no campo e dessas, 400 mil em agricultura familiar, cuja principal característica é produzir de forma diversificada. "Aqui se produz muito leite, aves, frango, especialmente em sistemas integrados. Também suínos, arroz, soja, fruticultura, uva e vinho. De 2003 para cá a agricultura familiar não tinha crédito e agora tem, desenvolveu-se muito. A agropecuária se tornou ainda mais importante porque está mais dinâmica. Praticamente toda ela se modernizou a partir da linha do Mais Alimentos, todos os agricultores compraram trator, resfriador de leite, equipamento de irrigação. O resultado foi a alta na produtividade e mais renda, formando um ciclo que se auto-alimenta. O produtor elevou a produtividade, obteve mais renda e busca ainda mais crédito, que, para a felicidade geral, está disponível", brinca ele.
Há por isso boas expectativas para a Expointer, em setembro, grande feira de exposição do Estado na qual produtores realizam negócios e buscam crédito para comprar equipamentos.
Já no Espírito Santo a principal lavoura é a do café, explica o diretor-presidente do Banestes, Guilherme Gomes Dias. O banco tem a meta de crescimento de 20% na liberação de crédito rural na safra atual em relação à anterior, o que deve levar a carteira de crédito rural ao valor R$ 530 milhões com um total de 10 mil produtores. "O nosso perfil de atuação está muito aderente às características da agricultura do Estado, sendo o café a principal cultura. Mas tem outras culturas, como a fruticultura e a pecuária", diz ele.
Para custear o crédito do café, 20% dos recursos vêm do Funcafé e o restante é resultado da captação dos 34% dos depósitos à vista, que por lei, é o porcentual que os bancos são obrigados a recolher para o crédito rural. "Na carteira do Banestes metade dos recursos vai para custeio e metade para investimento, para aquisição de equipamentos, implementos e inovação de lavoura."
No plano de safra atual, os economistas destacam duas principais novidades. Primeiro, o aumento do limite de crédito de cada produtor em 10%: para custeio, o limite subiu de R$ 1 milhão para R$ 1,1 milhão por safra; na comercialização, de R$ 2 milhões para R$ 2,2 milhões. Rui Pereira Rosa, superintendente executivo empréstimos e financiamentos do Bradesco, explica que outro benefício do produtor no caso do custeio foi a permissão para que o agricultor financie as quatro safras ao longo do ano e o investimento pecuário, não apenas a safra total.
"Temos visto uma demanda maior de crédito direto no custeio. Hoje os limites de safra que foram colocados à disposição ao produtor tiveram aumento de 10%. Esse crescimento e mudanças normativos que proporcionam ao agricultor a trabalhar com quatro safras ao longo do ano. Na nova regra do Banco Central (BC), o produto tem, além do limite do Plano Safra, direito a tomar empréstimo de R$ 1,1 milhão para cada safra para o custeio", explica Rosa. "Entendemos que o produtor, tendo capacidade de pagamento e como comprovar recursos, terá saldo para aplicar em novos negócios", diz.
Fonte: Valor Econômico