A soja além do óleo e do farelo
Grão é aplicado na produção de cosméticos e até de tintas e revestimentos, mas essas utilizações são pouco conhecidas no Brasil
Originária do continente asiático, a soja é um dos mais antigos produtos agrícolas que a humanidade conhece. Apesar da maior parte do grão produzido ser utilizado na fabricação de óleo e farelo, seus derivados também são encontrados nos mais diversos usos.
Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), a soja é aproveitada na fabricação de diversos bens de consumo. Aparece em indústrias de diferentes setores, como cosméticos, farmacêutica, veterinária, adesivos, adubos, formulador de espumas, revestimento, tintas e plásticos.
No entanto, esse uso diferenciado representa apenas, 7% da destinação final da soja (veja quadro abaixo). Outros 49% vão para o processamento de óleo e farelo, usados, especialmente na alimentação humana e animal e na produção de biocombustíveis, como o biodiesel. E 44% são exportados in natura, a maior parte para a China.
Para o diretor técnico da Aprosoja, Luiz Nery Ribas, a sociedade não tem conhecimento desses outros usos da soja por uma questão cultural. “Poucos consumidores urbanos têm conhecimento sobre a soja. Os que têm, sabem apenas do óleo de soja, vendido nos mercados. Eles nem imaginam que no shampoo, esmalte e até mesmo sabonete há uma parcela do grão.”
Situação bem diferente da que ocorre em países como os Estados Unidos, que lidera a produção mundial do grão. Lá, é possível encontrar soja sendo utilizada em impressões de jornais, giz de cera, velas aromáticas, adesivos, cosméticos e lubrificantes, explica a Mercedes Panizzi, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“No Brasil, a inovação vem mais devagar. Às vezes, fazer um produto desses é mais caro, não compensa. Já nos Estados Unidos existe um público mais preocupado com essa questão de produtos renováveis e eles têm uma infinidade de materiais, objetos, onde a soja entra como componente.”
Mesmo na Embrapa, a pesquisa de melhoramento genético da soja está concentrada em usos alimentares, conta a pesquisadora. Segundo ela, atualmente são feitos trabalhos voltados para a produção de variedades favoráveis a outras alternativas de consumo: como broto ou sementes pequenas. “A soja verde, antes de amadurecer, pode ser consumida como um amendoim”, exemplifica Mercedes.
No entanto, a pesquisadora da Embrapa destaca a importância do uso da soja em outros segmentos. De acordo com Mercedes Panizzi, o óleo modificado pode substituir componentes da indústria petroquímica, reduzindo a dependência do Brasil da importação de derivados de petróleo.
Mercedes acrescenta ainda que diversificar mais o uso da soja agrega valor com benefícios para toda a cadeia produtiva. “Sempre que utilizamos fontes renováveis na produção de bens de consumo, grandes benefícios socioeconômicos e ambientais são obtidos: agricultores se beneficiam dos novos mercados e da agregação de valor na matéria-prima; o ambiente se beneficia com os produtos biodegradáveis e com o uso de fontes alternativas renováveis e os consumidores ganham com a opção de novos produtos.”
POR CAMILA CECHINEL | EDIÇÃO: RAPHAEL SALOMÃO/ GLOBO RURAL