DIVERSOS | 10/06/2020

Setor leiteiro de MS vive dificuldades e tenta encontrar maneiras para se reinventar na crise

As últimas informações apresentadas pelo Conseleite (Conselho Paritário de Produtores e das Indústrias de Leite) de Mato Grosso do Sul mostram uma realidade dura para o setor no estado: mais uma queda no valor do leite. 

 

De acordo com o boletim divulgado pelo Sistema Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), o valor projetado para a matéria-prima entregue em maio a ser pago em junho é de R$ 0,977 o litro, contra R$ 1,0224 visto no mês anterior, representando uma queda de 4,37%. 

 

Além de ser um valor que compromete a rentabilidade do produtor, é uma média muito aquém de praças como Minas Gerais, onde o preço do produto é de R$ 1,4677 e de Goiás, com R$ 1,4280 (preços em abril). 

 

Se para alguns produtores a saída é investir em tecnologia, melhorar a qualidade do leite e assim valorizar a produção, para outros é melhor pensar em mudar o foco da atividade e, porque não, dar mais atenção ao bezerro de corte. 

 

É o caso do produtor de leite do estado, Wilson Igi, diretor do Sindicato Rural de Campo Grande, que é empresário da Ponto Alto, que manufatura o leite em produtos como doce de leite. Ele acredita que talvez seja a hora do produtor continuar na produção leiteira, mas produzir ainda o bezerro de corte que,  nas contas da ponta do lápis, é uma opção para os tempos difíceis. 

 

Igi traça uma linha do tempo mostrando que em 1990 o estado produzia 399 milhões de litros de leite, o que era insuficiente para abastecer o mercado interno. “Até então éramos importadores de leite, de lá até 2010 crescemos 28,7% e chegamos a 511 milhões de litros, suficiente para o mercado do estado e sobrava excedente de exportação. De 2010 a 2014 crescemos mais e fechamos com exportações de 78 milhões de litros de leite. Porém, de 2014 para 2018 ocorreu uma forte queda na produção de leite do estado, de 528 milhões de litros reduzimos  309 milhões, ou seja, de exportador Mato Grosso do Sul passou a ser importador. Aqui a queda foi de 41,5% e no Brasil caiu 4%”. 

 

Para Igi, este cenário histórico revela de forma bem clara que o produtor está abandonando o setor e associa isso a três fatores: a falta de políticas públicas; o alto custo de produção, diante da mão de obra e energia cara e ineficiente, e a volatilidade no custo do concentrado. 

 

“Para se ter uma ideia, em abril de 2019 a relação de troca no setor era de 36 litros para a saca do concentrado, em abril deste ano saltou para 56 litros de leite por saca do concentrado, representando um aumento de 55%. Além disso, há a baixa remuneração, aqui o lucro é de 10,15, até 20 centavos, ou seja, o produtor rural está no prejuízo e, por isso, sai da atividade”. 

 

Sendo assim, Igi aconselha que é hora do produtor repensar a atividade. “Nosso modelo atual é pouco resiliente. Sugiro adotar o sistema ‘vaca de leite e bezerro de corte’: quando o preço do leite cai, podemos reduzir a oferta de leite para alimentar e vender o bezerro, que custa em média R$ 1,2 mil a cabeça”.

 

Petróleo Branco 

 

Para a representante da Associação de Criadores de Girolando, Aurora Real, os produtores precisam despertar interesses dos técnicos em investir em genética e no meio acadêmico, porque o setor é muito interessante. “Com as novas tecnologias, novas formas de reprodução, raça e genética, uma vaca que produzia 5 litros pode produzir 20 litros”. 

 

Aurora aposta no setor e ressalta: “Eu como produtora de leite tenho orgulho de trabalhar com uma raça brasileira, tropical, que é o girolando, que aguenta o calor, o stress térmico, animais de tirar o chapéu. Eu defendo o leite, o petróleo branco, um produto nobre que faz parte do ser desde que nasce, um alimento técnico”. 

 

O mercado do leite apresenta desafios e oportunidades, segundo Aurora. “Há que desmistificar a atividade. Não é mais tão difícil, podemos usar tecnologia e aprendizado e tirar da terra o maior proveito, com isso, o leite passa a ser sustentável. Precisamos pensar também no bem estar animal”, acrescenta. 

 

“É necessário reformular a vida e os pensamentos e olhar nossa atividade de forma diferente, respeitando a natureza e o animal”, salienta e finaliza: “É necessário investir em tecnologia. Genética, nutrição, gestão, informações e aprendizado tecnológico”. 

 

Agro Agência

 

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