DIVERSOS | 18/12/2019

Super Produtora: Elza Dória Passos

Uma mulher à frente do seu tempo

 

Sempre com um sorriso no rosto e muita simpatia desde o primeiro contato. Assim é a produtora rural Elza Dória Passos, proprietária da fazenda Margarida, localizada no município de Bela Vista (MS), distante cerca de 325 quilômetros de Campo Grande. Na propriedade são desenvolvidas atividades na área de pecuária e agricultura.

 

Uma mulher à frente do seu tempo. Ao longo dos seus 90 anos, acumulou vasta cultura, experiências marcantes e uma bagagem enorme de histórias bonitas para contar sobre sua vida e da família.

 

A responsabilidade bateu à porta ainda muito cedo, aos sete anos foi para o internato, na capital, com o objetivo de se dedicar aos estudos. Filha do produtor rural Mário Mendes Gonçalves, teve seis irmãos, mas era ela quem, desde muito nova, mostrava maior interesse pelas lidas do campo e era a mais ligada ao pai. “Casei com o coronel Pedro Dória Passos, tive três lindos filhos e uma união de 45 anos. Nós moramos em diversas cidades do Brasil por conta do trabalho dele de longos anos como militar no Exército. Quando entrou para a reserva, voltamos a morar em Campo Grande e assumi a fazenda Margarida, em 1980, uma herança de meu querido e amado pai, Mario”, conta dona Elza.

 

Segundo ela, quando assumiu a propriedade, não tinha muita noção de pecuária, fazenda e tudo que envolve o meio rural. Inicialmente, pediu conselhos a amigos mais próximos e grandes produtores rurais, como Abílio Leite de Barros e Antônio de Moraes Ribeiro Neto. “Não sabia ao certo nem o que era carcaça; com isso comecei a pesquisar, me informar e contei com a ajuda dos meus amigos produtores. Falo que Abílio foi o meu professor de fazenda, porque sempre me incentivou e me ensinou muita coisa. Depois, ele e Toninho me apresentaram e me levaram às reuniões e palestras no Sindicato Rural de Campo Grande e também na Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul)”, comenta dona Elza, que há 37 anos é sócia do Sindicato Rural e sempre foi uma produtora bastante presente, atuante e disposta a ajudar no que fosse preciso.

 

Conquistas

Muito curiosa e bem informada, a produtora foi descobrindo outras instituições e entidades que pudessem ajudá-la ao longo desse processo. “Fiquei sabendo que em São Paulo tinha a Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais (AMNP) e logo me associei. Fui em diversas reuniões e tive uma enorme vontade de trazer para Campo Grande e consegui isso dois anos depois. Em 1988, abri uma sede que hoje em dia chama BPW – CG, porque faz parte da Business Profissional Women Internacional”, comentou.

 

Com trabalhos significativos desenvolvidos à frente da associação de mulheres, Elza Dória se consolidou e ganhou mais confiança e força para seguir adiante, sempre em busca de novos desafios. Um marco importante em sua vida foi ter sido eleita a primeira mulher, no Brasil, a fazer parte da diretoria de uma Federação Patronal. “Através de uma eleição que teve em 1994 entre todos os sindicatos rurais do estado, me tornei a primeira diretora-tesoureira da Famasul. Foi durante essa minha gestão que construímos a sede que tem hoje e isso considero como a glória na minha vida”, relembra entusiasmada a conquista.

 

Amor e livros

A paixão pela leitura, o amor e admiração por seu pai fez com que Elza o eternizasse em livros. “Tenho muitas fotos e informações da época, o que me motivou a fazer, com o escritor Luiz Alfredo Marques Magalhães o livro ‘Um homem chamado Mario Mendes’, lançado no ano de 2016, que conta a linda história da vida de meu papai”.

 

Ela contribui, também, com materiais, documentos, mapas, recortes de notícias, entre outros, para que Magalhães produzisse outro livro, este sobre a Companhia Matte Laranjeira. “Meu pai foi um dos administradores por muito tempo e foi a maior empresa ervateira da história do Brasil, conhecida mundialmente, e que representou o marco industrial para o nosso estado”, relembra orgulhosa do pai. O livro ‘Retratos de Uma Época - Os Mendes Gonçalves e a Cia Matte Laranjeira’ foi lançado em 2014.

 

 

Família

Alegria e simplicidade são marcas registradas para quem conhece e convive com a produtora Elza Dória, que serve de inspiração para todas as pessoas. Dos três filhos que teve, sendo duas mulheres e um homem, dois deles já faleceram, inclusive o filho caçula recentemente.

 

Mas, apesar da perda irreparável, da dor e saudade imensas, ela não se deixa abater pela tristeza e diz que ficou mais forte para seguir em frente. Com sete netos e onze bisnetos, recebeu da família, na qual é muito apegada, o apelido carinhoso de “bivó”.

 

Neste ano, em que completou 90 anos, fez uma festa para comemorar a vida ao lado das pessoas que ama e vestiu-se de paraguaia, do jeito que ela adora.

 

Atualmente, dona Elza vai para a Fazenda Margarida, mas não com tanta frequência. Contudo, a produtora está sempre atenta e acompanha tudo que acontece por lá, ou seja, continua aos olhos e cuidados dela.

 

Presença feminina

A produtora Elza Dória é um exemplo de que as mulheres estão cada vez mais atuantes e presentes no campo e na gestão das propriedades. Segundo ela, a presença feminina é muito importante para o meio rural, assim como a participação nas entidades representativas do setor. “Desejo que todas as fazendeiras ou esposas de fazendeiros frequentem o Sindicato Rural, porque se não participarmos de uma associação de classe, a gente não se une e consequentemente não aprendemos”.

 

Experiente, acredita que o companheirismo, o conhecimento e a informação contribuem para o sucesso do negócio. “Tem que ser parceira do marido, andar lado a lado, ajudar ele no que for necessário dentro da sua profissão, saber como funciona, com quem ele convive e tudo mais. Acredito que a união faz a classe, traz força e as mulheres fazem isso, mais do que tudo. Eu mesma não sabia nada quando comecei e então achava que tinha que me informar, com isso fui buscando diversas instituições, meios e conhecimentos dentro da área. Me considero uma grande precursora, uma mulher à frente do meu tempo e precisamos de mais mulheres assim, empenhadas em prol de um bem maior dentro do agronegócio”, finaliza.

 

Texto: Polyana Dittmar

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