Grande produção de animais e grãos garante fama de fazenda à Capital
Campo Grande completa 117 anos de história nesta sexta-feira (26), mas mesmo após um centenário de evolução econômica e industrial a cidade mantém o perfil interiorano. É só sair do Centro que o "clima de fazenda" aparece. Não é raro ver vacas e bois dentro da cidade, sem contar que por aqui, todo mundo se conhece, como se fossemos todos vizinhos.
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É comum ouvir falar que Campo Grande é uma grande cidade do interior e os números comprovam que a Capital tem sim, uma produção agropecuária forte. A cidade lidera o ranking da geração de empregos no agronegócio no Estado, com 4.401 pessoas empregadas no setor, segundo o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).
Além disso, a cidade está em 8° lugar na produção bovina do Estado, com cerca de 548 mil cabeças; 8° lugar também na produção de madeira, com mais de 208 mil toras; 6° lugar na criação de suínos, com produção superior a 67 mil cabeças e 17° em milho, com safra estimada anual de 108 mil toneladas.
As cenas rurais surgem em meio ao cenário urbano da Capital. Na Saída para São Paulo, a cerca de 30 minutos da região central, a propriedade Mateusandra surge com seus 2.600 hectares destinados à produção de soja, milho e feijão. Fundada há 14 anos, por um comerciante gaúcho que viu o potencial do agronegócio local, a propriedade triplicou a área nos últimos três anos. Segundo um dos proprietários e administrador, Mateus Eduardo Tochetto, Campo Grande oferece muitos benefícios para quem atua no agronegócio, principalmente em relação à logística.
"A facilidade é grande, principalmente devido a proximidade com o centro da cidade. A localização é propícia para o escoamento e também para a contratação de funcionários, pois, o custo é menor, todos podem trabalhar e voltar para casa, sem a necessidade de alojamentos, cantinas e outros investimentos. Para mim, facilita que posso ir ao banco, resolvo questões administrativas e até almoço e volto", conta.
Quanto a produtividade, a propriedade apresenta desempenho positivo, registrando em 2015, 3.600 kg de soja colhidas, 6.000 kg de milho e 480 kg de feijão. A Mateusandra é detentora ainda do título de propriedade com maior produtividade de soja no Centro Oeste e 2° maior no País em 2013, adquirida no Desafio Máxima Produtividade, concedido pela Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil).
"Sempre temos uma ótima produção, este ano houve uma quebra de 60% na safra do milho, mas foram as questões climáticas como seca e geada que causaram os danos. No mais, a região é bem produtiva", destaca o administrador.
Em relação as dificuldades de atuar no agronegócio dentro da Capital, Mateus aponta apenas um problema, a insegurança. "Há muitos furtos, principalmente de milho e feijão, mas é melhor investir mais em segurança e ter outras facilidades como logística e contratações", ressalta. Atualmente a propriedade conta com oito funcionários, número que sobe para 25 em época de colheita.
Em uma região oposta da cidade, em Rochedinho, há cerca de 30 km da área central e ainda no perímetro de Campo Grande, a pecuária é o destaque, onde um ex proprietário de uma locadora de vídeos, junto a um sócio, decidiu há cinco anos se aventurar na criação de cabras e fundou o Sítio Harmonia. Em busca de uma atividade que aliasse qualidade de vida a um trabalho diferenciado, Anderson Medeiros reconhece que há desafios em atuar no campo, mas também comemora bons resultados. "É um desafio adaptar a rotina antes urbana, ao meio rural, mas é muito fácil trabalhar na área dentro de Campo Grande devido a facilidade para administrar, em menos de meia hora estou no centro para resolver o que precisar", garante o empresário.
Com 18 hectares e cerca de 70 cabeças, a criação é totalmente voltada à produção leiteira para a fabricação de queijos artesanais. A produção gira em torno de 30 litros de leite ao dia, que rendem em média 3kg de queijo que quatro tipos. O Frescal é comercializado a R$ 75, o Boursin a R$ 400 kg, o Meia Cura vendido a R$ 85 e o Boursin bolinha a R$ 30. O leite de cabra tem valor de R$ 10 o litro. O produtor ressalta que é o único que atua neste segmento na cidade e que sua produção é totalmente natural, diferencial que já rendeu duas premiações nacionais para os queijos que produz. "Realizo 90 porcento do manejo sozinho e ainda consigo realizar as entregas pessoalmente, conheço meu consumidor final, que em geral são empórios e chefs de cozinha. Essas são algumas das facilidades que a localização e a proximidade campo-cidade me proporcionam", pondera.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Ruy Fachini Filho, há muitos desafios, mas também muitos benefícios e um cenário promissor ao produtor que opta por investir no agronegócio em uma capital como Campo Grande. Entre as dificuldades, o presidente destaca a falta de infra-estrutura e mão-de-obra qualificada. "Boa parte do que é produzido na cidade se perde por falta de investimentos no setor. Há estradas e pontes na área rural que precisam urgentemente de mais atenção. Além disso é preciso implementar alternativas para sanar a dificuldade em encontrar trabalhadores mais qualificados", destaca Fachini.
Entre os fatores positivos da Capital, o presidente exalta a posição privilegiada geograficamente. "Se falarmos em logística, estamos estrategicamente posicionados. Campo Grande está no caminho para o Porto de Santos, principal destino do que é exportado da safra. Além disso, a Capital tem ótimas universidades e centros de pesquisas", considera.
Para Fachini, todas as cadeias produtivas podem ser exploradas na Capital do Estado, principalmente a pecuária de corte e leite, a caprinocultura, a piscicultura e a agricultura familiar. "O agro tem um importante papel no desenvolvimento da Capital e do estado, outros setores dependem do desempenho do setor, que gera emprego e renda. Nossa Capital é agro, produz alimentos de qualidade reconhecida, com selo de sustentabilidade e a assistência técnica está ajudando a melhorar os índices de produção do município", finaliza o presidente.
Os investimentos, a geração de empregos e a força econômica do agronegócio local reforçam que neste 117 anos de constante crescimento em outros setores, Campo Grande ainda é uma grande fazenda.