Pular para o conteúdo principal

Relatório destaca a importância das florestas no combate à fome

/ MEIO AMBIENTE

A chamada "revolução verde", responsável pelo forte aumento da produtividade no campo a partir da segunda metade do século XX, não se mostrou capaz de resolver o problema da fome no mundo e, ainda assim, já estaria próxima de seu limite sustentável. Diante disso, as florestas têm papel cada vez maior em complementar a produção global de comida, além de possuírem características e desempenharem vários serviços ecossistêmicos fundamentais à segurança alimentar no planeta, especialmente nas regiões mais pobres. O alerta é de relatório elaborado por mais de 60 renomados cientistas, coordenados pela União Internacional de Organizações de pesquisa Florestal ( Iufro) em nome da Parceria Colaborativa sobre Florestas (CPF), e que será apresentado hoje, em Nova York, em evento paralelo à abertura do Fórum das Nações Unidas para Florestas.

De acordo com estimativas da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), mais de 800 milhões de pessoas, ou cerca de um em cada nove habitantes do planeta, sofrem com a fome e a desnutrição, a maior parte na África e na Ásia. E, embora este número venha diminuindo, cresce a quantidade considerada mal nutrida, como crianças com seu desenvolvimento prejudicado, mulheres em idade reprodutiva com anemia e adultos vítimas de obesidade. Soma-se a isso a expectativa de que a população mundial passe de nove bilhões em 2050 - e cumprir o desafio de acabar com a fome global até 2025, lançado pela ONU em 2012, durante a Rio+20, será praticamente impossível sem a contribuição dos produtos florestais e uma revisão nos processos de obtenção, acesso e preservação dos mesmos, destacam os autores do relatório.

Segundo o documento, as florestas podem ajudar a combater a fome e a má nutrição sob muitos aspectos. Elas e seus produtos são, por exemplo, mais resistentes aos efeitos das mudanças climáticas, como secas, do que as grandes plantações de apenas um ou poucos cultivares que marcaram a "revolução verde".

- A produção de colheitas em grande escala é altamente vulnerável a eventos climáticos extremos, que podem ocorrer mais frequentemente em um cenário de mudanças no clima - diz Christoph Wildburger, coordenador dos Painéis Globais de Especialistas Florestais (GFEP) da Iufro. - Sabemos que as florestas desempenham um papel-chave na mitigação das mudanças climáticas, e este relatório deixa muito claro que elas também podem ter importante papel no alívio da fome e na melhora da nutrição.

Alimentos mais nutritivos

Outro benefício das florestas é que os alimentos extraídos delas, como frutas, vegetais, nozes, cogumelos, carnes de caça, peixes e até insetos, além de forragem para animais domesticados, costumam ser mais diversos e nutritivos do que os produzidos pela Agricultura tradicional, promovendo uma dieta mais saudável. Isso sem contar que essa extração é uma importante fonte de renda e de segurança alimentar para as populações envolvidas, em geral muito pobres.

- Os alimentos das florestas frequentemente provêm uma rede de segurança durante os períodos de falta de comida - ressalta Bhaskar Vira, chefe do painel para florestas e segurança alimentar dos GFEP, que compilou o relatório. - No estudo, revelamos impressionantes exemplos que mostram como as florestas podem complementar a produção Agrícola e contribuir para a renda das populações locais, especialmente nas regiões mais vulneráveis do mundo. Em geral, o que deixa as pessoas com fome não é a falta de comida, mas a falta de acesso a ela e de controle sobre sua produção. Precisamos reconhecer a soberania alimentar que dá a essas populações locais um maior controle sobre seus alimentos.


Fonte: O Globo