1ª Expedição do Algodão aponta necessidade de uso racional de agroquímicos
A conclusão é da 1ª Expedição Algodão, projeto que monitorou lavouras em nove estados, com visita a 55 propriedades indicadas pelas associações locais do setor, durante os primeiros seis meses deste ano. O levantamento de dados atingiu 10% da área plantada no País.
“Temos que parar com essa curva ascendente do uso de insumos químicos”, afirmou o pesquisador Jean Belot, coordenador do estudo, apresentado durante o 9º Congresso Brasileiro do Algodão, que acontece até sexta-feira (06/09) em Brasília.
Um dos resultados da pesquisa aponta que houve descuido com a prática do Manejo Integrado de Pragas (MIP), fato agravado pela adoção de soluções isoladas nas propriedades. Isso provocou o retorno do bicudo, um inseto tão devastador quanto a Helicoverpa ssp.
Manejo integrado- Para Belot, o produtor precisa implementar o MIP ao invés de descuidar-se dessas ações por causa do uso de variedade transgênicas e pela necessidade de redução de custos.
“Manejo integrado significa ter na fazenda pessoas interligadas que sabem em que momento e qual produto deve ser usado para combater tal praga”, explicou. “Com o controle integrado, é possível saber que tipo de praga existe na propriedade e que tipo de controle deve ser adotado em função do nível populacional de insetos e outros métodos”, recomendou.
Uma dos problemas identificados pela pesquisa é que as técnicas de MIP foram deixadas de lado nos últimos anos. “As técnicas de manejo integrado eram bem implementadas. Mas por uma série de razões para reduzir custos foram deixadas de lado. Alguns produtores imaginavam que o uso de variedades transgênicas iria simplificar o controle e relaxaram quanto ao uso do manejo integrado”.
Capacitação - O pesquisador defendeu ainda mais capacitação dos profissionais e produtores que atuam no cultivo do algodão. “A produção de algodão exige um produtor tecnificado”, disse, apontando que a Expedição identificou a ausência de parâmetros para orientar ações de combate a pragas.
“A expedição identificou que existe grande variabilidade de práticas, como, por exemplo, o controle do nível de controle de pragas”, explicou. Fazendo comparação, citou que, enquanto algumas fazendas fazem o controle de pragas em 5% da área plantada, outras fazem em 25%.
“Precisamos voltar a treinar mais os técnicos de fazendas e as fazendas precisam aplicar melhor as recomendações técnicas das pesquisas e das instituições de extensão agrícola”, aconselhou. E advertiu: “A partir de agora, a agricultura do Cerrado será mais complexa quanto ao plantio de algodão e soja, porque vamos precisar saber manejar os diversos elementos transgênicos”.
Nesse aspecto, Belot fez uma recomendação para todos os produtores: “Temos que pensar no sistema e não na cultura individual”.
Ampliação do bicudo - Na Expedição do Algodão, foi verificado ainda o retorno de ataques expressivos de uma das pragas mais nocivas da cultura: o bicudo, capaz de causar mais danos do que a própria lagarta Helicoverpa ssp. Uma infestação que teve a colaboração do próprio produtor, ainda pouco experiente no manejo de pragas em um ambiente mais complexo, com adoção de tecnologias geneticamente modificadas.
A suspeita é que a incidência maior do inseto tenha origem em áreas cultivadas ora com soja ora com algodão, ambas usando variedades transgênicas com o mesmo tipo de resistência. O coordenador do estudo indicou como exemplo uma área colhida de variedades de algodão resistentes ao herbicida glifosato e cuja limpeza não foi feita adequadamente antes do cultivo de soja com a mesma resistência.
Atualmente, estima o pesquisador, aproximadamente 60% da área de algodão do Brasil é cultivada com transgênicos, entre variedades resistentes ao glifosato, ao glufosinato de amônia e ao ataque de insetos (lagartas). "O avanço está vindo muito rápido. Não me surpreenderia se esse percentual saltasse para algo em torno de 70% ou 80% da área já no próximo ciclo", afirma Belot.
Fonte: Assessoria de Imprensa