Confinamento em Terenos é aposta de pecuaristas que buscam dinamizar atividade
Nos próximos anos, Grupo MFG deve chegar a 80 mil animais confinados na mesma propriedade
Com a proposta de criar um boitel em Mato Grosso do Sul, o Grupo MFG inicia atividades de confinamento na zona rural de Terenos, na fazenda Sonho Real. A proposta de parceria com pecuaristas tem por finalidade trazer oportunidades a produtores da região, por meio de diárias contratadas para o gado com chance de travar contratos baseados no valor da arroba, de forma antecipada, e aliviar a pastagem do produtor que deslocará o lote até o confinamento, onde as reses contarão com engorda personalizada de acordo com a categoria do animal.
Segundo o gerente geral de confinamento da MFG no Brasil, Wagner Lopes, o confinamento que iniciou suas atividades neste mês de abril tem prospectado de 5 a 10 mil animais na primeira etapa do projeto. “Estamos com nossa equipe de originação fechando um compilado de dieta, aguardando chegar toda parte de brinco (rastreabilidade) para que a gente comece a alocar os animais. Nossa capacidade estática é de 25 mil cabeças para o projeto 2021 e rodar 50 mil animais. O confinamento tem potencial de 80 mil, mas vamos iniciar em Mato Grosso do Sul com 25 mil, com potencial para 50. Para os próximos anos, queremos chegar a 80 mil estático”, explica Lopes.
Vantagens
Tempo reduzido de engorda: O sistema de confinamento permite uma engorda até quatro vezes mais rápida que o tempo médio para uma terminação a pasto.
Garantia de retorno: Com o conhecimento do tempo para o abate e preço travado, o pecuarista tem a possibilidade de programar os seus investimentos financeiros.
Maior rendimento: O acabamento de carcaça de um animal no confinamento é superior ao animal a pasto, garantindo melhores rendimentos no abate.
Descanso da pastagem: Permite ao produtor aliviar as pastagens da fazenda e, com isso, traz a oportunidade de antecipar a recria e até mesmo reforma das pastagens.
De acordo com o gerente, uma vantagem é que o bezerro/garrote já pode chegar ao confinamento a partir dos 300 quilos. “O pecuarista pode focar na recria, ou até mesmo na cria, desmamar esse bezerro, recriar um pouco na fazenda e antecipar a saída desse animal por uma terminação em confinamento. Então, dentro das categorias de peso, o confinamento está apto a receber um animal de 300 kg, que passará por uma dieta de adaptação e crescimento, nessa etapa o lote receberá uma dieta mais volumosa e mais proteic, para realmente aproveitar o potencial de crescimento, e só depois entrará na fase de terminação”, detalha Wagner Lopes, ao complementar que “um animal, que chega no confinamento com 300 quilos, esperamos entregar ao frigorífico com 120 ou 130 dias, em um peso ótimo de abate no padrão que a indústria quer e no padrão de acabamento esperado de qualidade do frigorífico, para que também tenha uma rentabilidade conforme o acabamento para o parceiro”.
Para o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Alessandro Coelho, o formato de trabalho proposto pela MFG retrata a pecuária do futuro, no presente. “Hoje existem várias culturas entrando fortemente com rentabilidade superior, com baixo risco e fazendo com que a pecuária se torne menos atrativa. Acredito que esse perfil de projeto torna a pecuária mais atrativa, de forma que ela fique mais sustentável aqui no estado, do contrário, ela tende a ficar cada vez mais pressionada pelas outras culturas”, afirma o presidente. “A tendência é de que a pecuária sul-mato-grossense aumente as atividades industriais em determinados ciclos, porque não tem produto para abastecer e acaba gerando esse problema de demanda e consumo. É uma forma de todo pecuarista ter acesso a uma pecuária moderna, rentável, sanitariamente saudável, tecnificada, muito mais controlada, com gado rastreado, auferindo ganhos com toda a cadeia, do criador até o consumidor”, completa.
Neste modelo de negócio, parceria entre pecuarista e confinamento, o valor que será pago pela arroba já fica fixado no início da negociação, antes mesmo da fase de terminação. “Uma arroba hoje, pelo preço de mercado, é cerca de R$ 300,00, e além do preço que é indexado pelo Cepea temos o benefício da premiação da tabela do Marfrig, que é a Angus, com o qual é possível rentabilizar uma bonificação pelo padrão de carcaça e acabamento. Colocamos um animal no cocho, bezerro ou um garrote jovem de 300 quilos, e o confinamento vai entregar esse animal para abate com 120, 130 dias. Então o pecuarista colocou esse animal por R$ 230,00 a arroba produzida e vai vender esse animal indexado pelo preço Cepea, R$ 290 a R$ 300 reais, mais uma bonificação de R$ 7 por arroba, além de outros benefícios do Precoce MS”, pontua Wagner, ao afirmar que o lucro do pecuarista pode girar entre R$ 90 a R$ 100, por arroba produzida.
Entre as principais vantagens do projeto, segundo o representante da MFG, está a excelência dos confinamentos do grupo. “Trabalhamos realmente de forma personalizada para atender o parceiro da melhor forma, para que tenha uma experiência sensacional dentro do confinamento. Buscamos aproveitar no detalhe o potencial de cada animal com dietas de alta performance, com programas sanitários e de bem-estar animal, proporcionando o melhor conforto para que esse animal tenha excelentes ganhos de carcaça. Vamos promover uma experiência que o parceiro fique satisfeito e que seu animal tenha o melhor desempenho com todo esse aparato de tecnologia e com profissionais capacitados”, finaliza Wagner, ao destacar que todo animal que passar pelo confinamento em Terenos será encaminhado para a unidade da Marfrig, de Bataguassu (MS).
Genética
Os projetos da MFG têm relação estreita com a Agropecuária Jacarezinho, uma propriedade tradicional e referência em fornecimento de genética na bovinocultura de corte do Brasil. De acordo com Rafael Zonzini, um dos responsáveis pela comercialização genética da Jacarezinho, produtores rurais que consorciam qualidade nos animais com o sistema de confinamento da MFG podem ter vantagens mercadológicas.
“Existe uma sinergia muito grande entre os projetos genéticos e o projeto de terminação. A Agropecuária Jacarezinho está no mercado há quase 30 anos, e o estado de Mato Grosso do Sul é com certeza um dos mais importantes, é o estado que mais tem touro Jacarezinho. Essa genética advinda dos touros, embrião e sêmen, está aqui no estado e auxilia no projeto CEIP - Certificado Especial de Identificação e Produção. Resumidamente, nós deixamos de criar um animal de peso, tamanho e beleza a qualquer custo, para um animal de eficiência e de qualidade em um intervalo curto de tempo. A gente precisa fazer tudo isso no intervalo muito curto de tempo, é uma pecuária rápida, de ciclo, muito perto do chão, usamos esse termo para um animal de muita costela, fértil e precoce sexualmente, com precocidade de crescimento e de acabamento”, sinaliza Zonzini, ao reforçar que faz todo sentido o uso de uma genética eficiente com resultados comprovados, e colocar no cocho para terminar de forma ágil.
Em reunião com o grupo MFG, Alessandro Coelho destacou o alto nível da pecuária proposta no confinamento. “Tudo que discutimos diz respeito à pecuária presente, que a gente vislumbra para o futuro, então já existem todas as técnicas, todo o trato fitossanitário, já existe todo o trato nutricional, a genética disponível, porém isso ainda não chegou em volume suficiente para dar um diferencial de valor para o produtor. O que a gente precisa é que os produtores venham e adquiram esses produtos com mais tecnologia, que são produtos que têm, em especial dentro do nelore, uniformização de peças, marmoreio de carnes e carnes mais macias, levando em consideração que hoje já temos toda essa genética disponível porém, às vezes, por falta de conhecimento ou por falta de oportunidade não está sendo utilizada. O custo de você ter o produto convencional, em relação a esses produtos diferenciados, é o mesmo”, relata o presidente do SRCG, fazendo referência à genética da Jacarezinho.
“O projeto veio como uma proposta diferenciada, dá mais segurança para o pecuarista, o produtor se sente mais seguro com esse especialista em nutrição animal, especialista em produção de forrageiras e em produção de cereais, isso faz com que eles sejam especialistas em produção e terminação de gado, não são especialistas em produção de carcaça, quem produz a carcaça é quem fez a cria, eventualmente fará essa recria. Mas quem vai fazer a terminação e o ciclo de mais baixa rentabilidade dentro do segmento é o confinador, isso faz com que a indústria tenha um produto com mais qualidade, produtos mais seguros, tratos sanitários de altíssimo rendimento, eles têm garantias de desfrute, de perdas, inclusive estão vindo com uma proposta de frete que não é muito usual, mas querem entrar forte no mercado. É um grupo que está ligado ao Marfrig, uma indústria que vem trabalhando de forma diferenciada”, sinaliza o presidente, Alessandro Coelho.
“Então a pecuária do futuro, já está disponível no presente. O que está faltando às vezes é juntar as pontas dos elos dentro da cadeia e fazer com que ela funcione de forma mais harmônica, todo mundo ganha, às vezes ganha um pouco menos, mas até o consumidor sai ganhando no final. Isso é uma tendência e eu acredito que a pecuária está caminhando fortemente nesse sentido e dificilmente a pecuária sul-mato-grossense teria um outro caminho senão a especialização, a tecnificação e a comercialização diferenciada”, finaliza Coelho.
Diego Silva/Agro Agência