Pular para o conteúdo principal

Entrevista com Nilton Pickler, novo presidente da Famasul

/ POLÍTICA

Este ano será de recessão, mas há pontos positivos para o agronegócio, afirma novo presidente da Famasul

 

2015 começou com a mudança de direção de diversas entidades, como ministérios, federações nacionais e estaduais. Um ano que promete mudanças e pede prudência e cautela. O portal Rural Centro entrevista o novo presidente do Sistema Famasul - Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, Nilton Pickler.

RC: Como começou sua trajetória no agronegócio?

Nilton Pickler: Eu sou catarinense, mas muito cedo fui morar no Paraná e de lá me mudei para Mato Grosso do Sul em 1975. Foi aqui que eu me tornei produtor rural, primeiramente como agricultor, mas logo depois passei a criar gado, com propriedades localizadas em Bonito e Porto Murtinho.

Institucionalmente, comecei como integrante do conselho de representantes da Cooagri - Cooperativa Agrícola e Industrial e fui presidente do Sindicato Rural de Bonito por três mandatos.

Em 2012, fui eleito e empossado como vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de MS – Famasul, junto com o presidente Eduardo Riedel e agora assumo o desafio de ser o presidente da Federação em 2015.

RC: Quais são as prioridades para a sua gestão na Famasul? Já há projetos em vista?

NP: Durante este período em que estarei à frente da instituição pretendo dar continuidade aos projetos que estão vigentes. Ainda está cedo para falar em novos programas.

Hoje o Sistema Famasul tem grande trabalhos que têm como finalidade principal apoiar o produtor rural no desenvolvimento da sua atividade, são diversos projetos em todos os segmentos. Sem querer ser injusto a todos os trabalhos que desenvolvemos, darei destaque a apenas dois deles nessa entrevista, um é o Sindicato Forte, ação desenvolvida pela Famasul que tem como objetivo fortalecer as relações institucionais, capacitar líderes do agronegócio e analisar ações dos 68 sindicatos rurais do Estado.

Outro programa que nos trouxe muito orgulho em 2014 e nos emocionará em 2015, com total certeza, é o Programa Agrinho, do Senar-MS - Serviço de Aprendizagem Rural, um dos mais abrangentes programas de responsabilidade social implantado pela instituição e que leva de forma lúdica conhecimentos do agronegócio a alunos do ensino fundamental.

RC: Quais as perspectivas para 2015 em relação ao agronegócio no Brasil e no MS?

NP: Já é fato que 2015 será um ano de recessão econômica. Ainda no início de novembro do ano passado, o economista Eduardo Gianetti, durante o MS Agro 2014, um evento realizado pela Famasul, considerado um dos principais do agronegócio, já afirmava que naquela época já estávamos em recessão técnica. Então, em qualquer um dos setores econômicos do país sentiremos os efeitos deste momento econômico em que vivemos.

Com o agronegócio não é diferente, principalmente, por causa do aumento no preço de alguns insumos como a energia elétrica, que impactará em muitas atividades, algumas mais que outras. A elevação do preço do combustível já onera também a agropecuária, tanto em âmbito nacional, como estadual.

Outro ponto alarmante é redução no consumo interno, que sempre ocorre nos países que passam dificuldades no crescimento econômico, como o nosso.

Em contrapartida, tem um ponto positivo em todo este cenário desenhado pelos economistas que pode amenizar essa queda no consumo: o crescimento nas exportações. Com a nossa moeda desvalorizada e com a projeção de um dólar alcançando a casa dos R$ 2,8, há uma tendência de aumentarmos as exportações do agronegócio, trazendo um certo alívio.

Se o produtor rural já tinha adotado o sistema de controle de gastos ao longo dos anos, para poder driblar os altos e baixos, a montanha russa que é a nossa economia, agora, mais do que nunca, é hora de colocar na ponta do lápis tudo o que entre e o que sai da fazenda.

RC: Como deverá se comportar o mercado de grãos e carne este ano?

NP: Na pecuária, a tendência é de mais um ano de redução de ofertas. A reversão de ciclo, prevista para 2015 onde teríamos um crescimento no volume de carne bovina no mercado foi empurrada para 2016. Isso porque em 2013, 2014 os produtores rurais levados pelo momento positivo no mercado não reteram fêmeas no pasto. Essa decisão deve resultar numa queda na disponibilidade de carne bovina em 2015 e como tudo indica que a oferta no mercado internacional não vai diminuir, apostamos em um ano de preços em alta, sempre lembrando que esse patamar de valores recebidos vai encostar na alta dos custos de produção de um ano apertado da nossa economia.

Em relação ao mercado de grãos, também não há uma projeção negativa para a agricultura. Segundo o relatório apresentado no final de 2014 pelo Departamento de Economia do Sistema Famasul, a renda do segmento, o que chamamos de VBP - Valor Bruto de Produção, deve aumentar 7,1% , isso porque os economistas apostam tanto no aumento de preço como na elevação do volume produzido. O PIB - Produto Interno Bruto da agricultura do Estado, indicador que mede as riquezas geradas pelo setor, também deve crescer, algo em torno de 6,7% em 2015.

 

RC: Quais são as expectativas em relação à nova ministra da agricultura Kátia Abreu? E ao novo presidente da CNA, José Martins?

Kátia Abreu é conhecedora dos problemas que o setor agro tem vivido nos últimos anos e acreditamos que ela saberá conduzir a sua gestão à frente da pasta em que foi indicada com destreza. Em relação a José Martins, que conviveu ao lado da Kátia Abreu como vice-presidente e que também atua como presidente da Federação da Bahia, ele está preparado para presidir uma instituição de tamanha representatividade como a CNA.

RC: E em relação ao novo governador?

NP: Aposto no bom trabalho que será feito pelo governador Reinaldo Azambuja. Acredito que ele fará um bom trabalho tanto no setor agropecuário como em outros setores econômicos e sociais. Na minha opinião, ele está preparado para vencer os desafios que o nosso Estado apresenta. Hoje mesmo soube por intermédio da imprensa sobre o novo plano logístico para Mato Grosso do Sul que consiste em trabalhar os três portos que são fundamentais para o desenvolvimento do Estado: Corumbá-Ladário, Porto Murtinho e Bataguassu-Três Lagoas, o setor se entusiasma porque este é realmente um dos principais problemas que vivenciamos, a logística.

RC: O segundo mandato da presidente Dilma será bom para o agronegócio?

NP: Nós esperamos que seja bom, levando em conta que o agronegócio é um dos setores que mais emprega no País, é responsável pelo equilíbrio da balança comercial , entre outros fatores. O que precisamos do nosso Executivo, de modo em geral, é um olhar especial para a questão jurídica, que tira a tranquilidade do campo.


Fonte: Rural Centro