Estiagem põe agronegócio em alerta
A escassez de chuvas em Mato Grosso do Sul já reflete em replantio de áreas de soja e no atraso do plantio da safrinha de milho. Conforme o sistema de Monitoramento Agro Meteorológico (Agritempo), até dia 3 de novembro diferentes áreas de Mato Grosso do Sul se encontram com até 21 dias sem chuva. Produtores rurais do Estado estimam perdas financeiras com replantio de soja e risco de enfrentar seca e geada com o milho. Além da preocupação com a falta de sementes para fazer a semeadura novamente.
De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Mauricio Saito, o déficit hídrico no Estado já preocupa produtores de determinadas regiões. “O déficit já está além da nossa expectativa inicial. Acreditávamos que a regularidade das chuvas já viria no ínicio de novembro e ainda não veio. Esperamos que a partir da semana que vem essa regularidade chegue. Já existe um prejuízo para os produtores que conseguiram plantar em setembro e outubro, pois, algumas áreas precisarão ser replantadas. E com os problemas enfrentados com a soja certamente teremos atraso no plantio da safrinha também”, informou Saito.
Conforme o boletim técnico Casa Rural até o dia 1° de novembro, a área plantada de soja acompanhada pelo Projeto SIGA MS alcançou 49,5%. A região sul está com o plantio mais avançado, em média 50,6%, enquanto a região centro está com 50% e a região norte com 44,9% de média. A área plantada até o momento, conforme estimativa do Projeto SIGA, é de aproximadamente 1,565 milhão de hectares. A porcentagem de área plantada na safra 2019/2020, encontra-se inferior em aproximadamente 37,53%, em relação à safra 2018/2019, para a data de 1° de novembro.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Dobashi, explicou que o plantio da safra de soja está com atraso de 27% em relação a média dos últimos cinco anos. “A Aprosoja registrou a necessidade de replantio em algumas áreas, principalmente na região sul do Estado, onde ainda não houve regularidade nas chuvas. O atraso no plantio devido a estiagem afeta também o Paraná e as entidades, bem como a Aprosoja Brasil avaliam os impactos na safra de soja e consequentemente, na de milho segunda safra 2020. Em Mato Grosso do Sul a Aprosoja tem se preocupado com produtores que plantaram e estão enfrentando problemas. Dessa forma, tem buscado soluções junto a agentes de seguro para encontrar alternativas financeiras que garantam a rentabilidade do produtor junto ao seguro rural”, afirmou.
REGIÃO SUL
O engenheiro agrônomo, Ricardo Rigon, atua na região Sul do Estado, diz que a situação está complicada para os agricultores. “Algumas áreas vão precisar ser replantadas, porque algumas áreas já perderam potencial produtivo devido à falta de água. E a outra metade dos locais que atendo (Dourados, Deodápolis, Caarapó e Naviraí) ainda estão aguardando as chuvas para plantar”.
O agrônomo ainda reforça que o plantio do milho safrinha deve atrasar. “Provavelmente o nosso plantio vai se intensificar agora no meio do mês de novembro, assim sendo a colheita será em março A data para o plantio do milho é até 10 março, então provavelmente vamos passar desta data. Com isso podemos ter de enfrentar problemas de seca e geada no milho”, disse Rigon.
A também agrônoma Izabela Moro diz que a partir do fim do vazio sanitário, 15 de setembro, os produtores já começam a plantar na região Sul. “Normalmente o sul do Estado planta primeiro, de Dourados para baixo. De Maracaju para cima, o plantio geralmente começa dia 1º de outubro. Hoje estamos com uns 60% de área plantada, mas com escassez de chuva. Se não chover essa semana o que já foi plantado não vai nascer e por isso o produtor precisará fazer o replantio. Nas áreas em que se planta primeiro como Ponta Porã isso já está acontecendo, então é bem preocupante esse cenário. Estamos aguardando a chuva dessa semana para saber o que vai acontecer. De 2014 para 2015 enfrentamos um cenário parecido, mas choveu em novembro e por isso deu tempo de recuperar” analisa. “O replantio é um prejuízo sem tamanho, pois, o produtor precisa fazer tudo de novo”, complementa.
PRODUTOR
O produtor rural, Ângelo Ximenes, disse que aguarda a chuva prevista para esta semana para reavaliar a possibilidade de replantio. “Após essa chuva vamos verificar a necessidade de fazer o replantio ou não. Devido a já estarmos indo para a época preferencial do plantio da soja então precisamos avaliar. Às vezes não estão tão regulares as plantas, mas é mais conveniente deixarmos do jeito que está do que arriscarmos novamente. Se as chuvas vierem essa semana, faremos na semana que vem essa avaliação. Mas eu acredito que o maior prejuízo é para a safrinha. Vamos colher a soja no fim de fevereiro, começo de março e por isso com certeza teremos esse atraso no plantio do milho safrinha”.
Conforme apurado pela reportagem do Correio do Estado apurou, caso houver replantio em muitos locais faltará sementes. No Paraná, onde 40% dos produtores já fazem o replantio, este problema já ocorre.
Para a soja safra 2019/2020, estima-se uma área plantada de 3,163 milhões de hectares, com uma produção aproximada de 9,906 milhões de toneladas. A produtividade média deve manter-se em 52,19 sacas por hectare. De acordo com o presidente da Famasul ainda não há estimativa de redução de área ou produtividade.
Pecuária também sofre com estiagem
A pecuária também sofreu com a escassez de chuvas. Sem umidade as pastagens não brotaram e prejudicando a alimentação para os bovinos. De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Coelho, o momento é de estratégia. “As reses prejudicadas pela estiagem devem ser selecionadas e comercializadas no mercado, por meio de leilão, por exemplo. O Sindicato criou o Leilão Agro Forte, para possibilitar produtores associados e não associados a comercializarem esse gado, que tende a ser um pouco mais magro. E aqueles que ficarem na fazenda acabaram por achatar um pouco mais a margem do pecuarista, uma vez que deverá ser feito um trabalho de nutrição adequado ao rebanho”, afirmou.
Na Capital, só choveu 20% do esperado
Conforme o Instituto Nacional de Metereologia (Inmet), Campo Grande apresentou dificuldade hídrica nos últimos meses. A média esperada para setembro era de 77,6 milímetros, e foram registrados 16,2 mm. Em outubro a média aguardada era de 150,6 mm, quando foram registrados 30,8 mm e em novembro são esperados 163,9 mm e ainda não houve registro de chuvas. Nos dois meses, só choveu 20% do esperado.
Dados do Inmet apontam que nesta terça-feira (5) há previsão de pancadas de chuva e trovoadas isoladas a partir da tarde, especialmente no sul e leste do estado onde pode chover forte durante a noite. Na quarta-feira também são previstas pancadas de chuva em todo o Estado. E chuva forte nas regiões leste e sul. O cenário se repete até o fim da semana.
De acordo com o Boletim técnico da Casa Rural, na região centro-norte ocorreram precipitações entre os dias 28 de outubro e 1° de novembro, nas propriedades visitadas, com média acumulada de 19,5 mm no município de Camapuã, 12,8 mm em Paraíso das Águas, 17 mm Chapadão do Sul e 20 mm em Cassilândia. No Sudoeste, conforme o Agritempo, não choveu entre os dias 28 de outubro e 1° de novembro. No Sul do Estado, também não houve registro de precipitações no período.
*Fonte: Correio do Estado
*Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado