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Mordendo a língua

/ DIVERSOS

Waldir Guerra *

 

Todo político atuante precisa usar muito suas falas, tanto em conversas, como em seus discursos, para demonstrar ao público sua capacidade e também sua liderança.

Com essa obrigação de cumprir o dever perante seus eleitores, muitas vezes, ele comete erros grosseiros em suas manifestações. Contudo a maioria dos políticos sempre reconhece publicamente seu erro quando cometido em suas atitudes públicas. Esses se obrigam a “Morder a língua” como diz provérbio popular. Sempre foi assim, mas de uns tempos pra cá a coisa mudou, ficou pior.

Hoje as próprias lideranças políticas extrapolam nos erros em suas afirmações e atitudes. Nada justificam depois e muito menos reconhecem o erro cometido.

Quando fui vereador também cometi – e por diversas vezes – um erro imperdoável, do qual me penitencio, ao acusar o todo poderoso Ministro dos Transportes por corrupção.

Ainda muito jovem e no afã das lutas políticas pensava que não poderia me calar vendo o exagero e os desperdícios cometidos com a quantidade e grandiosidade das obras feitas por ele; como a Ponte Rio - Niterói, Ferrovia do Aço e rodovias como: Transamazônica, Perimetral Norte, BR 163 e 364. Obras arrojadas e todas feitas a “toque de caixa”.

Não fazia parte da esquerda, mas concordava com os que criticavam o Ministro pelos gastos exagerados. Construtoras e empreiteiras se esbaldavam com lucros enormes. Corrupção havia e era nítida e ele estaria participando de tudo. Seria um corrupto. E muitos o criticavam por isso e participei dessas críticas.

NÃO era corrupto e NÃO participava! Era um idealista e queria o desenvolvimento do país. Um patriota! A ficha caiu para os que falavam mal dele quando morreu vítima de uma doença grave e deixou somente um pequeno apartamento de dois quartos para a viúva e filhos. Todos os que o criticaram, onde me incluo, morderam a língua.

Na campanha para seu primeiro mandato Lula (PT) usou um apagão elétrico no final do governo de Fernando Henrique para vencer a eleição do PSDB em 2002.

Hoje vejo Lula quieto, nada diz em seus discursos dos nove apagões no atual governo do PT – O último aconteceu nesta semana passada. Deve estar mordendo a língua por conta disso.

Aquele apagão de FHC foi uma das “heranças malditas” que o atual governo herdou e criticou há onze anos.

Outra herança maldita foi a deficiência nos transportes. E essa era uma verdade onde os petistas afirmavam nada ter sido feito no governo FHC para melhorar os transportes. Sim, mas o que fez o PT nesses onze anos de sua administração? Estimulou o consumo de veículos e quase nada fez para ampliar estradas e ferrovias.

Acordou agora, a menos de seis meses, com as concessões. E antes que alguém diga: “antes tarde que nunca”, diria que é tarde, sim.  Tarde porque já se pode afirmar que esta será a herança maldita que o atual governo vai deixar para o próximo: o apagão dos transportes. O herdeiro disso poderá ser o próprio PT – ou melhor, ela própria, Dilma Rousseff.

Vejo hoje petistas confrontando as decisões do Supremo no caso Mensalão, assim como fizeram quando se abstiveram na aprovação da Constituição em 1988. Deveriam, sim, reconhecer estes erros para não ficarem eternamente mordendo a língua.

 

*Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador em Pato Branco-PR e secretário do governo e deputado federal em Mato Grosso do Sul. E-mail: wguerra@terra.com.br