Pular para o conteúdo principal

Mulheres: Mãos que movem o agro dentro e fora da porteira

/ DIVERSOS

O Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG) entrevistou algumas mulheres ligadas à agropecuária sul-mato-grossense, na busca por compreender o espaço conquistado, os desafios que enfrentam e as oportunidades que regem o setor.

 

Associadas ao SRCG, todas acreditam na representação do setor e no fortalecimento da classe com o passar dos anos e se empenham em atividades que as coloquem no espaço delas, que no caso, é onde elas querem que seja.

 

 

 

 

Eleíza Moraes Machado é casada, mãe da Cecília de 4 anos e do Henrique de 16. Formada em Administração e mestre em Gestão Agroindustrial, ela administra a Fazenda Rancho Alegre, uma referência na região de Campo Grande que tem como principal atividade a suinocultura e pecuária. Sob seu comando estão 83 colaboradores, sendo 63 homens e 20 mulheres. “Ser mulher na agropecuária é ser corajosa e determinada todos os dias a fazer o seu melhor. É muito gratificante aprender e colaborar todos os dias para o aumento da produtividade da fazenda”, aponta Eleíza.

 

Segundo ela, a principal missão das mulheres desta geração é fazer um mundo melhor, com mais oportunidades para todos crescerem e aumentarem seus conhecimentos. “Já temos muitas mulheres em todos os setores e, principalmente, no agro. Dia a dia observamos o crescimento da presença feminina no campo e o principal desafio é provarmos que, independente de sexo, temos capacidade igualmente de ocupar qualquer cargo. O mundo ideal seria sermos mais respeitadas e termos mais credibilidade no agro”, completa Eleíza.

 

"O mundo ideal seria sermos mais respeitadas e termos mais credibilidade no agro"

 

 

Jussara Feltrin Moraes é mãe da Eleíza, também é produtora rural e se empenha em promover as mulheres do campo e incentivá-las a trabalhar e terem salários iguais. “Gosto muito de trabalhar neste ramo. Já nasci no agronegócio, sempre admirei. Entendo que é o campo que serve o mundo no setor alimentício, isso me deixa muito orgulhosa do que faço”.

 

Jussara acredita que as mulheres desta geração tem como missão “passar toda suas experiências para as meninas e explicar que elas não podem perder as oportunidades que esse setor oferece, mesmo tendo que enfrentar vários desafios, pois ainda é um trabalho predominado pela ala masculina”, alerta a produtora.

 

“Penso que todas as mulheres devem se preparar. Fazer cursos e faculdades ligadas ao setor rural e seguir os conhecimentos, acompanhar o mercado e mostrar sua capacidade. Assim teremos o mundo ideal, gerenciado por mulheres”.

 

Assim teremos o mundo ideal, gerenciado por mulheres

 

 

A proprietária da Fazenda Emadica, em Porto Murtinho MS, Arlete Corrêa da Silva Ferraz, arrendou a propriedade para seu filho Maurício Ferraz, mas acompanha todos os processos. Fora da porteira, ela desenvolveu atividades ligadas à valorização da mulher na agropecuária, chegando a presidir a BPW - Business and Professional Women ou Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais de Campo Grande.

 

“O projeto que desenvolvi durante o meu mandato, quando presidente da BPW CG, foi um trabalho dentro da pecuária, o qual me deu muito orgulho.  Essa associação é de Mulheres de Negócios e profissionais que tem como objetivo dar destaque e apoio às mulheres. Junto à diretoria, desenvolvemos um leilão de gado de corte, cujas proprietárias, mulheres, ou que trabalhassem em parceria com seu marido, é quem deveriam participar. Minha gestão ocorreu entre os anos de 2001 e 2002, mas o projeto continua”, explicou Arlete.

 

Para o projeto ela contou com nomes fortes do setor, que formavam a Comissão da Agropecuária da BPW CG, como Maura Corrêa, Eva Corrêa Medeiros, Marisa Cardoso, Jussara Feltrin Moraes e Elza Doria Passos. “Depois de muito trabalho e ajuda, conseguimos fazer o nosso primeiro Leilão de Gado de Corte Mulher, que foi incluído na programação de leilões da Expogrande 2001. Evento que se repete até hoje”, reforça.

 

“Essa foi uma grande realização para a minha vida pessoal, que deu a certeza de ter proporcionado às mulheres pecuaristas de Mato Grosso do Sul uma janela muito importante para poderem mostrar a qualidade dos seus produtos. Da primeira vez, tivemos a participação de 42 criadoras, que se mostraram muito satisfeitas com o resultado do leilão”, lembra Arlete Ferraz.

 

“Acho que as mulheres têm uma participação muito importante no setor da agropecuária, porque sempre foram parceiras dos seus companheiros com uma atuação presente nas suas propriedades e muitas, após a viuvez, tinham capacidade para continuar o trabalho construído pelos seus maridos”, destaca ela ao apontar que “o mundo ideal para as mulheres na agropecuária é poder trabalhar sem problemas de preconceitos. Tenho muito orgulho dessas lutadoras.”

 

 “Conseguimos fazer o nosso primeiro Leilão de Gado de Corte Mulher, que foi incluído na programação de leilões da Expogrande, em 2001”

 

Outras três mulheres que se destacam são Imaculada Aparecida Chiquito, Cristiane Maria Magalhães Chiquito e Conceição Marisete Ferreira Chiquito. Guerreiras dentro e fora da porteira, contribuem na produção, gestão e comercialização de uma propriedade familiar em uma estância da capital. Casadas com os irmãos Chiquitos, elas têm tomado o protagonismo da horticultura, transformando-se em empresárias rurais.

 

 

Imaculada Aparecida Chiquito ajudou seu esposo a desenvolver um dos primeiros plantios em estufa, na capital de Mato Grosso do Sul. “Ainda sinto muito preconceito, principalmente no campo, onde os homens são muitos machistas. Trabalho na parte de embalar e vender os produtos e venho de uma família de produtores de algodão, feijão e milho, desde pequena ajudando meu pai roça”, explica.

 

Ela afirma acreditar em um futuro mais promissor para as mulheres do agro. “Precisamos romper os preconceitos e ir conquistando espaço. A mulher ‘devagarzinho’ está conseguindo seu lugar no agro e em todos os lugares, exemplo disso é nossa Ministra da Agricultura, Teresa Cristina”.

 

Entre seus sonhos está o reconhecimento. “Queremos trabalhar de igual para igual, principalmente a questão financeira, pois a mulher trabalha igual e ganha bem menos”, completa Imaculada.

 

“Precisamos romper os preconceitos e ir conquistando espaço”

 

 

Cristiane Maria Magalhães Chiquito formou-se em medicina veterinária, mas nunca tinha trabalhado em propriedades rurais até o casamento. “Ser mulher na agropecuária é sempre se deparar com desafios e superações. Minha história com a agropecuária se deu a partir do casamento. Sempre fui urbana e foi um grande desafio me inteirar da rotina no campo”.

 

Ela acredita que mulheres da atual geração precisam assumir a liderança. “A principal missão da mulher dessa geração é auxiliar cada vez mais nas propriedades rurais e até mesmo tomar frente nas áreas de gestão de agronegócios. Existem oportunidades para quem procura o aperfeiçoamento e existem grandes desafios, como o preconceito com a nossa capacidade, dificuldades em conciliar as atividades domésticas com os projetos, e assim por diante”.

 

“Ser mulher na agropecuária é sempre se deparar com desafios e superações”

 

 

Conceição Marisete Ferreira Chiquito, que trabalha na horticultura produzindo pepino e pimentão comercializados no Ceasa, afirma ser uma mulher feliz atuando no agro. “Sou uma mulher feliz e realizada. Filha de produtor rural e esposa de produtor rural, trabalhamos juntos neste setor que me faz realizada”.

 

“Ser mulher atuante na produção de alimentos para o mundo me faz realizada. Nosso papel é buscar cada vez mais tecnologias para aumentar a produção e eficiência. Acredito que existam sim as oportunidades, só não podemos ter medo de buscar os desafios”, destaca Marisete.

 

“Com menos preconceito e mais valores no trabalho, teremos mulheres cada vez mais felizes e realizadas, assim como eu”, finaliza.

 

Nosso papel é buscar cada vez mais tecnologias para aumentar a produção e eficiência

 

 

Diego Silva/ Agro Agência