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O povo quer mudanças e tem pressa

/ SINDICAL

Waldir Guerra *

 

Cada dia que passa fica mais fácil entender os motivos das manifestações públicas acontecendo em tantos lugares e em distintos países. O povo não quer mais apenas ser governado, quer ser ouvido, quer participar; não quer mais simplesmente assistir quer atuar. Não quer mais esperar, tem pressa e faz acontecer.

No mundo moderno, até aqui, o povo teve na democracia a melhor maneira de ser governado; e pelas eleições, através do voto, ele indicava os seus representantes para governar. Hoje não está mais satisfeito; tanto com os governos como com a maneira de escolher seus governantes.

O povo não está satisfeito porque os que o governam se assenhoreiam do poder através dos partidos e como bem disse a nossa presidente, acabam fazendo o diabo durante as campanhas eleitorais para se manterem no poder.

Até aqui o povo era convocado para comparecer às urnas e escolher um dos indicados pelos partidos para ser mandatário político. Agora o povo tem o poder de convocar direta e instantaneamente os eleitores e não eleitores para que saiam para as ruas a fim de exigir suas demandas, por bem ou por mal.  

Assim será daqui pra frente e os políticos com poder que tratem de fazer uma “PEC” nessa democracia já superada e encontrem uma nova maneira de escolher os futuros mandatários políticos – porque somente assim os atuais continuarão no poder. Infelizmente, por enquanto, todos os mandatários continuam fazendo “chicana”, como bem disse o presidente do STF.

E para os que pensam que as manifestações só acontecem no Rio de Janeiro e São Paulo é bom dizer-lhes que na semana passada, na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, um grupo denominado “Mobilização pelo passe livre” que se dizia representando “universitários e trabalhadores” findou uma invasão da Câmara de Vereadores, onde exigia passe livre para estudantes nos ônibus municipais e permaneceu ocupando o Legislativo Municipal por 30 dias. Será que reivindicavam passe livre mesmo? Mas alguém terá que pagar essa conta, pois em economia se diz que não existe almoço grátis.

Afinal, não importa o que reivindicavam os membros da “Mobilização pelo passe livre”, importa que as manifestações aqui no Brasil têm muito a ver com as dos países árabes. 

Lá no mundo árabe as manifestações são mais violentas porque o povo quer sair diretamente de ditaduras para a democracia. Aqui já a vivemos, só precisamos melhorá-la. Mas lá, como aqui, mandatários políticos não aceitam mudar o status quo. Contudo a propalada Primavera Árabe devagar vai fazendo as mudanças, mesmo que seja pela força e sempre através de manifestações populares.

O povo árabe também quer o governo para si e não aceita mais que não seja ele, povo, a exercer o poder. É isso que se deduz do que acontece agora no Egito onde o povo derrubou uma ditadura militar e pacificamente elegeu um presidente. O presidente eleito submeteu seu governo ao sectarismo religioso da Irmandade Muçulmana e apesar da grande força do islamismo naquela região o presidente foi deposto em um golpe militar por não manter um governo laico.   

Militares de um lado e adeptos da Irmandade Muçulmana de outro iniciaram um confronto onde já morreram centenas de pessoas, mas a paz só será encontrada quando realmente as partes se convencerem que o poder deverá ser exercido diretamente pelo povo e não através de militares ou religiosos.

Não parece tão difícil de entender as manifestações públicas, tanto lá no velho mundo como aqui: o povo quer participar diretamente, não quer mais somente assistir, quer atuar e tem pressa, por isso está nas ruas.

 

* Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário do Governo e deputado federal. e-mail: wguerra@terra.com.br