Principal gargalo para a competitividade do agronegócio brasileiro é o escoamento da produção
/ AGRICULTURA
O Brasil nasceu para ser um país agrícola. Sua localização geográfica, suas terras cultiváveis e seu clima colaboram com as mais variadas culturas. Nossa produção no setor é grande o bastante para atender grande parte das demandas mundiais por alimentos. No período de 2014/2015 a safra esperada de grãos deve ser na ordem de 206 milhões de toneladas. Mas apesar de todo esse potencial, a questão da logística e infraestrutura das exportações requer atenção, principalmente no que se refere ao escoamento da produção de milho e soja.
“Em 2014 tivemos um déficit de capacidade de embarque desses grãos em 64 milhões de toneladas. Se continuarmos com essa velocidade produtiva, mas sem melhorias em nossos transportes, principalmente nos portos, vamos ter todo esse potencial jogado fora”, afirmou Luiz Fayet, consultor de logística e infraestrutura da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e membro da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Luiz Fayet explicou que no Brasil, o agronegócio nasceu e se desenvolveu no Sul do País. Mas, com a ocupação de praticamente todas as áreas disponíveis localmente, migrou para o Centro-Norte/Nordeste e o Centro-Oeste, alterando a geografia da produção. Com isso, passou a ocupar regiões desprovidas de infraestrutura terrestre adequada e sem capacidades portuárias para consolidar os novos corredores, deixando-se de considerar o potencial hidroviário com vistas a reduzir os custos de exportação. “Assim, o problema mais grave é o Apagão Portuário. Não escoamos nossa produção pelas rotas mais racionais, que seriam as do chamado Arco Norte – portos de São Luís, Belém, Macapá, Santarém e Itacoatiara. Nossa produção rola rumo aos portos do Sul e do Sudeste”, frisou.
O consultor ressalta que à medida que o agronegócio foi subindo para as novas fronteiras, os custos logísticos da porteira do produtor até um porto de embarque para exportar foram encarecendo. Hoje, equivalem a quatro vezes mais que os custos argentinos e norte-americanos. “Tudo em função da falta de infraestrutura. Se houvesse uma racionalização nesses custos, poderíamos botar no bolso de um produtor de soja ou de milho dessas áreas uns R$ 4,00 a mais por saca”, completou.
O Secretário Executivo da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Carlos Nunes, acrescentou que esses altos custos roubam a competitividade da produção. “Por isso é preciso mais alternativas e crédito nessa área”, disse.
Para o gerente de transporte e logística do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), Edson José Dalto, a questão da logística sempre foi o “patinho feio” do agronegócio. Ele explicou que como a fronteira agrícola esta em expansão, o modo rodoviário é crescente, mas ineficiente. Dalto comparou dois dos principais produtores de grãos: Brasil e Estados Unidos. A distância que o nosso País percorre da porteira até o porto são grandes ou médias e conseguem transportar 53% da produção de grãos. Na mesma proporção, os Estados Unidos conseguem 60%. “O transporte brasileiro rodoviário é mais barato no Brasil do que nos Estados Unidos, mas é ineficiente”.
Edson José Dalto observou que o BNDES cresce anualmente em 15% os desembolsos em logística. De 2003 a 2014 foram aprovados 194 projetos aprovados, com 140 bilhões de reais com financiamento de R$ 63 milhões do Banco. De 2015 a 2018, a previsão é que o BNDES financie R$ 69,2 bilhões. A partir de 2019, serão 129,4 bilhões. Os números e os debates sobre o desenvolvimento da agropecuária brasileira ocorreram durante o seminário Financiamento da Agropecuária, realizado na quinta e sexta-feira passada, e discutiu assuntos de importância para o setor, em Brasília, no Hotel Kubistheck Plaza e foi organizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).