Terraceamento Agrícola com locação em nível: prática importante de conservação de solo
Zuldivar Abdo Denari
In memoriam
Sr. Zuldivar Denari foi um engenheiro-agrônomo, pecuarista e agricultor nascido no interior de São Paulo, que se mudou para Mato Grosso do Sul para se dedicar às propriedades rurais adquiridas no estado. Sempre atento às questões ambientais, desenvolveu estudos sobre conservação de solos e criou a fórmula de cálculo para terraços em desnível, além do cultivo na palha, integração de lavoura com pecuária e plantio em nível.
O produtor faleceu no último dia 15 de janeiro, aos 85 anos, uma semana após escrever um artigo para o SRCG, que você acompanha abaixo. Denari deixa quatro filhos, netos e um legado de amor à terra e ao meio ambiente.
Terraceamento Agrícola com locação em nível: prática importante de conservação de solo
O Terraceamento Agrícola,uma prática importante e bastante difundida de conservação de solo, consiste na construção mecânica de um conjunto canal/dique, acompanhando a linha em nível ou de desnível, locadas em uma gleba, com a finalidade de cortar o declive e melhor segurar a força da água de chuva que vem da parte mais alta da gleba.
A implantação do sistema de plantio direto na palha, uma prática de conservação de solos difundida há mais de 3 décadas no Brasil, é um sistema onde a palhada protege o solo do impacto gravitacional da gota de chuva que tem grande potencial de desagregação e arrastamento da micela (partículas reativas) do solo nu. Essa prática beneficiou a agricultura com menores perdas de solo, gerando aumento de produtividade. Esse incremento colocou o Brasil entre os maiores exportadores de alimentos do mundo, combatendo a fome e carências alimentares.
Podemos garantir que o sistema de plantio direto sobre a palha deu ao Brasil o status de grande líder da preservação do recurso natural “solo”, em tempo recorde, nos transformando na maior potência de conservação dos solos tropicais no mundo. Note: 1 kg de palha protege do arrastamento superficial 127 kg de solo.
Agora vamos dar dimensionamento aos terraços fazendo uma comparação matemática entre o volume da chuva caída entre dois terraços e o volume da enxurrada retida no próprio terraço que fica na parte mais baixa, para podermos determinar a área da secção transversal que devemos construir ao levantamento do terraço. Temos que calcular então a área da seção molhada do mesmo.
A seção molhada é uma área no perfil do terraço, estabelecida pela profundidade e largura da lâmina d’água, quando o volume da enxurrada fica retida no dique do terraço.
A área da secção molhada será determinada por uma equação simples, fácil de ser implantada ecompreendida por técnicos e fazendeiros, chamada Fórmula Racional do Terraceamento, que é a seguinte :
onde : Sm = área da secção molhada
Sm = C . HP . dH C = Coeficiente de deflúvio ou enxurrada
hp = Altura pluviométrica para período de Recorrência de 5 anos
dH = Distância horizontal entre dois terraços
Note que não necessitamos usar o comprimento do terraço na equação, mas utilizamos o valor da distância horizontal entre dois terraços, coeficiente muito importante no cálculo da seção molhada.
O coeficiente de deflúvio (escoamento superficial de água) mede a quantidade de chuva não absorvida na área entre terraços e que será retida no canal. Depende de uma série de condicionantes de solo, de declividade e de cobertura vegetal ou de palhada. Os estudos referentes a este índice necessitam de uma adaptação para as áreas terraceadas porque, na maioria das vezes, as tabelas têm sido desenvolvidas para bacias hidrográficas.
Para a altura pluviométrica temos usado valores entre 100 e 120 mm/dia, que se referem a Período de Retorno de 5 anos - conforme dados meteorológicos locais - tempo na qual os terraços devem ser formados, por causa do assoreamento no seu canal, especialmente na semeadura.
A distância ou espaçamento horizontal será ampliada em relação às tabelas existentes, porque os maquinários modernos usados na agricultura são de grande porte e são considerados uma importante variável no cálculo do dimensionamento do terraço.
Se, por fim, considerarmos uma cultura anual, onde C=20, com um espaçamento horizontal de 50 metros entre terraços e uma coluna de chuva de 100 mm/dia, chegaremos a uma área de secção molhada de 1 m².
Devemos acrescentar uma margem de segurança, chamada borda livre, de 1,2 m² para suportar uma chuva de 100 mm /dia, que pode ocorrer estatisticamente a cada cinco anos. Nestas condições, o terraço terá uma área de secção transversal com grande dimensão e muita profundidade, o que causa problemas na semeadura de qualquer cultura anual. Veja que, para uma largura do terraço de 4,0 metros, teremos uma profundidade de 0,45 metros, portanto uma enorme dimensão na construção do terraço, de perfil parabólico, isto em declives entre 2% a 4%. Casos especiais, quando a gleba apresenta sérios vícios de antigas erosões, a margem de segurança deve ser ampliada para 30% da Sm, o que dá maior altura livre entre o nível da lâmina de água e a crista do terraço, para evitar transbordamento nas depressões do terreno.
O agricultor deve observar estes cálculos matemáticos e assim ter certeza que seu solo está sendo protegido, pois o solo é o principal e o mais importante recurso natural das nossas fazendas e, portanto, do Brasil.
O plantio na palha é um dos maiores legados da agricultura brasileira e deveria ter um incentivo apropriado para a sua sustentação e difusão.