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Três gerações no leite: Família conta como entrou para a seleção de Girolando em MS

/ PECUÁRIA

Diego Silva - Agro Agência Assessoria

 

Ao todo são 134 hectares para 180 animais, mas apenas 42 vacas em lactação que utilizam cinco hectares irrigados, em uma rotação diária entre 29 piquetes, que geram cerca de 700 litros de leite por dia, sendo 150, destinados aos bezerros. Este é o atual cenário da Fazenda Rondinella, que fica na região de Jaraguari (MS), administrada por três gerações de uma família, eleita nas competições de 2016/2017 os melhores na criação da raça Girolando, do Estado.

 

Aurora Real e Cláudio Real

O título de melhor criadores da raça Girolando veio com os prêmios conquistados nos últimos circuitos. Ao todo somam 26 grandes campeonatos, além de dezenas de troféus que trouxeram de competições em Lins, Uberaba, Campo Grande, Paranaíba, entre outras cidades.

 

A matriarca Olga Trefzger Cinato é a responsável pelo início da atividade leiteira na família, quando há cerca de uma década, trouxe 20 animais do interior de São Paulo. A partir de então a filha veterinária, Aurora Real, tornou-se seu braço direito na propriedade, com apoio integral do marido, Marcelo Real, e agora do filho Cláudio Franco Cinato Real, que estuda para se tornar veterinário, assim como os pais. Bruno Cinato Real, outro filho do casal, optou pela busca de conhecimento em outras áreas de ensino.

 

Aurora encabeçou tanto o projeto que além de diretora do Sindicato Rural de Campo Grande, defendendo projetos ligados à cadeia leiteira, tornou-se diretora da Associação Brasileira de Criadores de Girolando e Marcelo o presidente do Núcleo estadual da entidade.

 

“A pecuária leiteira enfrenta grandes dificuldades relacionadas à baixa quantidade de indústrias. Tínhamos uma grande indústria que saiu do mercado, trazendo à tona a lei da oferta e procura e a falta de incentivo para os produtores. Incentivo a que me refiro se trata de uma ação governamental, não propriamente à produção, porque isso, o produtor recebe muito bem, através dos trabalhos de extensão da Agraer, Senar e Sindicatos Rurais. Mas digo uma política clara de incentivo e, principalmente, estimular indústrias de fora a virem para MS, mas também uma política transparente que fortaleça o crescimento das indústrias locais”, pontua Marcelo Real.

 

Marcelo, esposo da produtora rural, e empresário fez um alerta para os custos de produção e contou que em 2017 chegou a vender o litro do leite por R$ 1,80, sob o custo de R$ 0,97, mas o início de 2018, no auge da crise, teve um custo de R$ 0,94, enquanto comercializou o litro do leite a R$ 0,90. Agora, segundo Real, o mercado vive uma recuperação de preço, com litro na casa de R$ 1,35, mas custos ainda elevados. “Esta é uma das situações que nos fazem pensar em novas estratégias”, esclarece Marcelo, ao apontar as próximas decisões da família, que está entre intensificar a produção leiteira ou optar pelo trabalho com genética de ponta, focada na produção.

 

“Hoje estamos em um híbrido, dedicando tanto à produção de leite quanto à genética, então teremos de tomar a decisão, talvez, de nos tornarmos muito eficientes em uma produção mais intensificada de leite, em uma propriedade relativamente pequena. Mas se decidirmos pela genética, vamos enfrentar o mercado em que o produto originado pelo produtor de leite, não é bem avaliado, e dentro desta situação; como ele vai comprar uma vaca de alto valor agregado? Essa é a dificuldade em que nos encontramos”, destaca o produtor rural.

 

Sua esposa, Aurora Real é a responsável pela qualidade na produção. “Leite de qualidade é uma somatória. É preciso o animal de qualidade, com bem-estar, saudável, alimentação adequada, para que se tenha quantidade ideal de gordura que se repasse ao leite. Tudo isso acompanhado de um belo trabalho de sanidade, com muito cuidado para não se ter resíduos, como antibióticos, antimastíticos que se usa, veneno, carrapaticida, tudo pode passar para o leite e por isso é necessário cuidado”, declara a produtora ao sinalizar seu apreço pelo uso de homeopáticos, para não prejudicar a qualidade da produção. “Na sala de ordenha é necessário extrema higiene, o cuidado com os equipamentos. Além do resfriamento do leite o mais rápido possível, atentamo-nos muito quanto a qualidade da água, que é essencial para tudo, desde a limpeza da ordenha até aquela oferecida ao animal, que precisa ser extremamente limpa”, completa.

 

A parte da genética é de responsabilidade do neto da dona Olga, o Cláudio Real. Com empenho, tem se tornado um expert no setor. Em uma visita à Fazenda Rondinella, os alunos do curso técnico em agronegócio, do Senar/MS em parceria como Sindicato Rural de Campo Grande, Cláudio apresentou os detalhes morfológicos necessários para um animal eficiente.

 

Para o tutor do Senar, Dênis Faustino, a experiência dos alunos foi completa. “A família mostrou a realidade de uma propriedade com a atividade leiteira. Os alunos puderam ter noções sobre as instalações, manejo e também sobre manejo produtivo e genética da raça Girolando. Isso é muito importante, assim os alunos podem ter noções de como é o processo produtivo de uma propriedade modelo em formação de animais com alta genética, fator importantíssimo para a formação do técnico em agronegócio”, aponta.

Técnico em Agronegócio SRCG 

Durante a visita dos alunos, Marcelo Real, deixou claro que são necessárias medidas urgentes para melhorar a pecuária leiteira de Mato Grosso do Sul. “Governo tem de fazer uma política de estado, para o setor lácteo. O Estado tem condições de se tornar um grande player na produção leiteira, e tenho certeza que os produtores, ao sentirem segurança, vão se dedicar a investir e então usar as linhas de financiamento”, diz Real. “Quem faz o Estado, são as iniciativas privadas. O Estado tem de dar segurança, saúde, facilitar o transporte, arrumar as estradas, usando bem adequadamente os recursos, mas tem também o papel de regular, trazendo estímulos para que as pessoas sintam-se em um cenário competitivo melhor”.