Bolsa brasileira prepara novo contrato futuro de café
Única mudança é na “peneira”, que passa a ser 6/7; expectativa é começar as negociações já em 2015
POR RAPHAEL SALOMÃO, DE SÃO PAULO (SP)
A BM&FBovespa deve lançar até o fim do ano um novo contrato futuro de café. A informação foi dada pelo diretor Comercial e de Desenvolvimento de Mercados da bolsa, Fábio Dutra, durante o seminário Perspectivas para o Agribusiness 2014 e 2015, em São Paulo (SP).
A única mudança em relação ao contrato negociado atualmente é a peneira do produto. No papel atual, é negociado café arábica peneiras 4/5. No novo, será 6/7. Volumes negociados (100 sacas de 60 quilos por contrato) e moeda (US$ por saca de 60 quilos) serão mantidos. Os vencimentos também permanecem: março, maio, julho, setembro e dezembro.
Segundo Fábio Dutra, o contrato atual deve ser mantido em negociação até setembro de 2015, o último vencimento com posições em aberto. Depois, passa a vigorar só o novo, que deve ter como primeiro vencimento em aberto o de março de 2015.
“O novo contrato é muito mais próximo da cafeicultura brasileira. Então, a gente deve trazer muito mais agentes para o mercado com este novo contrato. O 4/5 tem um público muito restrito, que é o mercado exportador”, disse Dutra sem, contudo, estabelecer uma meta de liquidez para o produto.
O diretor da BM&FBovespa destacou que, nos últimos cinco anos, o contrato de café veio perdendo liquidez na bolsa brasileira. Um dos fatores, segundo ele, é a própria especificação a ser modificada com o novo produto.
Outra limitação é a tributação da entrada de capital estrangeiro no país, por meio da cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as operações de mercado futuro. “Isso afasta o investidor estrangeiro que, nos nossos mercados futuros, representa 40% a 50% dos volumes.”
Fábio Dutra destacou ainda que a BM&FBovespa pretende promover o que chamou de “choque de transparência” no indicador Esalq/BM&FBovespa para o boi gordo, que existe há 20 anos. Segundo o diretor Comercial da bolsa, a intenção é adequar melhor o levantamento á realidade atual do setor.
O indicador, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) serve como referência para a liquidação dos contratos futuros brasileiros. “O processo de coleta de preços que talvez não seja amplo o suficiente e vem tem reclamações dos agentes do mercado.” Na avaliação de Fábio Dutra, a discussão em torno do indicador impede que o contrato futuro de boi gordo avance de acordo com as expectativas da bolsa.
As principais medidas a serem adotadas, de acordo com o diretor da bolsa, é a divulgação dos valores que servem de base para o cálculo do indicador; auditoria desses preços para que se garanta que, de fato, são valores de negócios realizados; e gravação das ligações, para servir como prova em caso de divergência.
Dutra explicou que, como os preços que compõem a amostra do indicador não são divulgados, há questionamentos sobre a possibilidade de que um determinado participante possa influenciar “de um jeito ou de outro” a formação do preço do indicador. “Não é verdade, mas só o fato de haver esse desconforto distancia esses players do mercado.”
Não será feita nenhuma mudança na metodologia do indicador do boi gordo, disse ele. Fábio Dutra também negou que haja questionamentos semelhantes em relação aos demais indicadores de referência para o mercado futuro brasileiro.