Cana ecológica em expansão
Na Usina Agropéu, em Pompéu, Região Central do estado, 12 máquinas de grande porte trabalham 24 horas por dia, colhendo a nova safra de cana-de-açúcar. Até novembro, quando o ciclo se encerra, serão 1,1 milhão de toneladas, transformadas em açúcar, álcool e energia. Onde é possível a entrada das colhedeiras, o trabalho humano foi 100% substituído. Em todo o estado, 97% da safra atual será colhida pelas máquinas fabricadas no Brasil, modelo que substitui a queima do canavial. Cada colheitadeira faz o trabalho de 85 cortadores de cana.
O novo sistema promove um trabalho mais saudável, menor agressão ao meio ambiente e até o retorno de animais que haviam abandonado o canavial. É bem mais ecológico e nem sempre acaba com as vagas de emprego, como muitos imaginam. A expectativa é que a produção em 2015 surpreenda e seja recorde em Minas, com 61 milhões de toneladas de cana moída, 3 bilhões de litros de etanol e outras 3 milhões de toneladas de açúcar, marcando também o fim da transição entre o trabalho humano e o plantio e a colheita mecanizados.
Na Agropéu, unidade de médio porte e uma das primeiras a atingir o percentual de mecanização exigido em protocolo ambiental assinado entre o setor sucroalcooleiro e o governo do estado, a colheita mecanizada passa dos 90%. “Só não usamos máquinas onde a declividade é acima de 12% e não permite a entrada do equipamento”, aponta Geraldo Otacílio Cordeiro, diretor-presidente da indústria. Para o executivo, a mudança de perfil, que trocou o facão pelas colhedeiras, trouxe benefícios para o meio ambiente e respondeu a uma demanda do setor.
A eliminação da queima da palha da cana reduziu a emissão de gases do efeito estufa. Entre 2008 e 2014, foram 6,1 milhões de toneladas de CO2 a menos na atmosfera. A palha, que agora fica sobre o solo, também contribui para reter a umidade na terra, se transformando em adubo natural. “Se não houvesse a mecanização, hoje também não teríamos mão de obra suficiente para responder à necessidade do setor”, diz Cordeiro.
QUALIFICAÇÃO
Em 10 anos, a Agropéu investiu R$ 18 milhões em equipamentos e na formação da equipe. Segundo a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), em todo o estado, os aportes do setor foram na ordem de US$ 3 bilhões entre 2008 e 2014. Dados do sindicato apontam para 55 mil empregos diretos no setor em 2008, e 80 mil em 2015. “Trabalhadores foram qualificados e absorvidos em outras funções”, defende Mário Campos, presidente da Siamig.
Segundo ele, a mecanização da lavoura coincidiu com momento de crescimento do setor. Apesar da crise, que culminou com o fechamento de oito usinas no estado nos últimos cinco anos, as 37 unidades de Minas vão produzir 44% mais que em 2008. A expansão da atividade produtiva permitiu que o setor crescesse no número de empregos gerados.
De acordo com Cordeiro, quando o processo de mecanização foi iniciado, há cerca de 10 anos, eram 700 funcionários. Hoje, a usina emprega 1 mil trabalhadores. “Conseguimos implementar o processo sem demitir, porque a produção cresceu de 600 mil para 1,1 milhão de toneladas”, justifica.
Para Vilson Luiz da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura em Minas Gerais (Fetaemg), a mecanização é um caminho sem volta, assim como a preocupação com os postos de trabalho perdidos é permanente. Segundo ele, nem todos foram absorvidos pelo processo de capacitação e acabaram deixando o campo, retornando para a cidade. Como ex-cortador de cana, ele lembra que o trabalho é duro e extenuante, mas se preocupa com a recolocação de quem foi substituído e não assumiu outras funções. “É importante haver políticas para fixar o trabalhador no campo, como a implementação do crédito fundiário”, defende.
Nelson Krastel, produtor de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro, conta que seu quadro de trabalhadores foi reduzido com a mecanização, mas que os funcionários deixaram a condição de temporários para permanentes, com melhores salários e benefícios, como plano de saúde e cesta de alimentos. Ele conta que já chegou a empregar, sazonalmente, 200 funcionários de abril a novembro, na época da colheita. Agora, tem 140 empregados fixos e conta que todos os seus operadores de máquina são ex-cortadores de cana. “A colheita mecanizada deixa mais impurezas na cana e tem menor rendimento, mas qualificou a mão de obra. Mesmo com o menor rendimento, prefiro o modelo que temos agora”, diz o produtor.
Fonte: Assessoria de Comunicação do SENAR