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Estratégias para a redução de danos pelo frio – inverno de 2024

/ PECUÁRIA
Orientações da Embrapa para Produtores Rurais

A temperatura baixou e trouxe consigo preocupações significativas para os pecuaristas de Mato Grosso do Sul. Eventos climáticos extremos, como geadas intensas, têm causado danos expressivos nas pastagens e impactado diretamente a saúde dos rebanhos bovinos. Neste contexto, a Embrapa Gado de Corte, através do pesquisador Luiz Orcírio Fialho de Oliveira, emitiu uma carta com orientações para minimizar os danos provocados pelo frio, destacando ações preventivas que podem salvar vidas e preservar o valor econômico dos animais.

 

Confira a carta na íntegra:

 

NOTA TÉCNICA

2ª. Carta ao Produtor de Bovinos de Corte

Embrapa Gado de Corte

 

Estratégias para a redução de danos pelo frio – inverno de 2024
Luiz Orcírio Fialho de Oliveira, pesquisador da Embrapa em nutrição animal

 

Eventos Climáticos

Por diversos anos tem-se observado a morte de bovinos a pasto em Mato Grosso do Sul, especialmente na região sul do Estado. Os mais antigos se lembrarão do frio de 17 de julho de 1975 – na oportunidade não havia sistema de controle de rebanho para registro das mortes, mas as perdas foram enormes, tanto que todo o cafezal plantado no Estado foi queimado pelas fortes geadas. Já recentemente, em 2021, no mesmo mês de julho, diversas geadas levaram animais a óbito, o que motivou a primeira Carta ao Produtor.

 

De fato, podemos ter certeza – não tem como escapar das quatro estações do ano e conviver com suas características climáticas, ou seja, todo ano teremos o outono e o inverno – estações de poucas chuvas e muito frio, algumas vezes de forte intensidade, que poderão causar mais ou menos mortes, podendo ser mitigadas por meio da adoção de ações preventivas.

 

Efeitos do clima de outono e inverno nas plantas

As geadas podem congelar a água contida no interior das células e dos tecidos vegetais, levando à morte de diversas partes das plantas. No entanto, para aquelas que possuem boas reservas (raízes profundas e abundantes) a recuperação é mais rápida e mais vigorosa – fato que pode ser atendido por meio de um bom manejo das pastagens – no caso das forrageiras.

 

Por outro lado, a redução do fotoperíodo (número de horas de luz do dia) acrescentado à escassez hídrica (poucas chuvas), promovem a diminuição da fotossíntese e um balanço energético negativo para as plantas – fazendo com que ela reduza ou mesmo paralise seu crescimento e consuma suas reservas armazenadas em seus tecidos vegetais – especialmente nas raízes.

 

Caso tenham boa reserva – promovida pelo balanço positivo dos meses da primavera e do verão, sua manutenção e recuperação serão rápidas – lembrando uma das Fábulas de La Fontaine sobre a “Cigarra e a Formiga”.

 

Dicas para minimizar os efeitos do frio e da geada

Em 2021 fizemos algumas recomendações, que reforçamos neste documento. As ações preventivas estão em três eixos – pré, durante e pós-evento:

 

Pré-evento:

Faça a vedação de uma área de pastagem da propriedade no final do verão para se tornar a reserva para o período da seca e do frio, quando as pastagens não crescem e perdem seu valor nutricional. É o que chamamos de “feno em pé” – o armazenamento de boa forragem – que não foi consumida no verão para ser utilizada nesse período – podendo ser mais bem aproveitada com o uso de suplementos contendo fontes de proteína verdadeira e/ou de nitrogênio não proteico (ureia, amireia, etc.).

 

Otimize as vendas e faça a redução da carga animal da propriedade antes do período de seca, evitando a superlotação e a perda de peso generalizada dos animais – com isso a propriedade terá um melhor fluxo de caixa e reduzirá excesso de despesas com a compra de insumos alimentares. Uma ação estratégica importante em rebanhos de cria, por exemplo, pode ser a desmama precoce. Vacas paridas com bezerros acima de 4 meses de idade e com baixo escore de condição corporal devem ser desmamadas preventivamente.

 

Normalmente há uma dificuldade de entendimento desta estratégia do ponto de vista alimentar do bezerro – pois não há alimento mais rico e mais barato que o próprio leite da vaca, entretanto vacas magras não produzem leite suficiente para seus bezerros e ainda assim perdem muito peso, com enorme chance de mortes no inverno – causando um prejuízo maior do que a alimentação do bezerro – estimada nas atuais condições de mercado em aproximadamente R$ 400,00 (quatrocentos reais).

 

Produza alimentos conservados para que possa alimentar os animais na seca e no inverno. Mantenha os animais bem suplementados e garanta suplemento extra para tratar eventualmente os animais mais debilitados.

 

Garanta a boa saúde dos animais por meio de tratamentos preventivos para ectoparasitas e endoparasitas, além da adoção correta do plano de vacinas recomendado pela Embrapa no Calendário Sanitário.

Estabeleça um projeto para repovoamento de árvores ou formação de bosques na propriedade, voltados à proteção dos animais.

 

Durante o evento:

Busque proteção florestal – áreas florestadas ou invernadas contendo “capões de mata” podem servir de agasalho aos animais contra os ventos gelados e as temperaturas a céu aberto.

 

Use barreiras naturais – os ventos predominantes das frentes frias na região centro-sul são dos quadrantes sul/sudoeste. Assim sendo, tente posicionar os animais em invernadas que possuam barreiras naturais (morros) ou vegetais (árvores, reservas) para amenizar o efeito dos ventos frios. Evite correntes de ar frio, geralmente canalizadas, ao longo dos cursos d’água.

 

Os animais tentam naturalmente proteger-se dos ventos frios que vêm no sentido sul e caminham para locais mais protegidos, em direção ao norte da propriedade. Se for preciso, deixe abertos os cantos de cerca na direção por onde caminham os animais em busca de proteção.

 

Tente proteger os animais mais debilitados do rebanho. Caso consiga, aparte os animais mais fracos e leve-os para uma área protegida próximo da sede – piquete ou curral da propriedade – e busque aquecimento e suporte alimentar para os mesmos.

 

Pós-evento:

Agora é o momento de recuperar os animais. As pastagens que já estavam fracas e com baixo valor nutricional, agora se encontram em piores condições.

 

Assim é fundamental a oferta de alimentos armazenados seja na forma naturaln(capim elefante picado, cana de açúcar, folha de mandioca mansa, de feijão Guandu, milheto, entre outros) ou conservados (silagens de capim, milho, sorgo, e feno de diversas forragens).

 

Havendo reserva de capim nas invernadas, forneça suplementos proteicos que visam melhorar a digestibilidade e o consumo da forragem. Em caso extremo e na dificuldade de aquisição de alimentos, é necessária a avaliar a possibilidade da retirada dos animais da propriedade em tempo hábil (antes que percam muito peso) – seja pela venda, parceria com outro produtor ou mesmo pela contratação temporária de um confinamento “boitel”.

 

No retorno do período das águas faça uma avaliação dos estragos causados pela geada e pela seca, a fim de se planejar a necessidade de recuperação de pastagens e o ajuste do efetivo do rebanho, com relação à capacidade de suporte da fazenda – visando sua recuperação gradativa.

 

Lembre-se de que oportunidades de parcerias (com agricultores, por exemplo) e de adoção tecnológica podem ser importantes, neste momento, assim como a reorganização do modelo por meio da introdução de áreas mais florestadas (formações de capões e outras reservas) e a adoção dos modelos integrados de produção (lavoura-pecuária-floresta ou apenas pecuária-floresta).

 

Considerações finais

A Embrapa Gado de Corte desenvolveu um protocolo que permite valorizar as propriedades de bovinos de corte com alta manutenção de árvores nativas – denominado Carne Carbono Nativo. Em andamento está a viabilização efetiva de propostas de remuneração.

 

Finalmente, nos solidarizamos com os produtores que perderam animais ou mesmo que sofrem com a recuperação em razão da recente frente fria, ocorrida em Mato Grosso do Sul e outras regiões do Brasil. Colocando-nos à disposição para mais esclarecimentos.