Etanol de milho é alternativa de renda e energia no Centro-Oeste
Em meados de 2011, a equipe da Usina Usimat, em Campos de Julio (MT), buscava alternativas para baixar os custos de produção do etanol e melhorar a rentabilidade. Depois de muita pesquisa, a empresa decidiu investir na produção de etanol de cereais na entressafra da cana-de-açúcar. “Já tínhamos visto usinas produzindo etanol de milho nos Estados Unidos, Argentina e Paraguai e decidimos iniciar os testes por aqui”, revela Sérgio Barbieri, diretor da empresa.
Com a iniciativa, a usina que funcionava 210 dias por ano produzindo etanol de cana, se transformou em uma das primeiras usinas flex do país e passou a operar em média 340 dias por ano. “Foi a grande virada. Tornamo-nos mais competitivos e conseguimos diluir os custos”, explica.
A produção de etanol de milho tem se mostrado uma realidade promissora no Centro-Oeste do Brasil. A safra de grãos na região vem batendo recorde ano após ano, enquanto os preços caem por conta da grande oferta e do baixo consumo doméstico. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a safra 2013/2014 da região já alcançou 80,1 milhões de toneladas, ante 78,2 milhões de toneladas da safra 2012/2013.
“Em momentos em que há excedente da safra de grãos, a produção do etanol de milho se torna uma oportunidade rentável para as usinas e os produtores”, afirma Roberto Hollanda Filho, presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul (Biosul). Hollanda explica que pode se tornar um jogo de ganha-ganha para o setor, por ser um empreendimento de oportunidade. “A usina aproveita o bom momento do mercado, o produtor o excedente com preços melhores e temos maior oferta de etanol”.
Produto complementar
Apesar das vantagens na entressafra canavieira, Celso Junqueira Franco, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), enfatiza que o etanol de milho é complementar. Produzir a partir de cereais só é viável na entressafra da cana, desde que haja excedente de grãos e os preços estejam baixos. “Não é viável construir uma usina apenas para produzir etanol de milho, é algo sazonal, que vai acontecer dependendo do volume da safra, das condições do mercado e do preço dos grãos”.
Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) concorda. Para ele, a produção do etanol de milho é um nicho de mercado. “É bom para o produtor de grãos e para o usineiro, mas jamais vai resolver o problema do etanol no país”, pondera. “Precisamos de uma política de previsibilidade no que se refere aos preços e que valorize o produto que não polui.” Para ele, a volta da cobrança da Cide sobre a gasolina seria uma solução para equilibrar o mercado.
Cana x milho
Segundo Rubens Augusto de Miranda, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, a produção do etanol de milho no Centro-Oeste só é viável quando os preços da saca atingem no máximo R$ 18. “O Mato Grosso é o único estado onde os preços sistematicamente ficam abaixo desse limite. Nos três principais estados produtores de cana-de-açúcar, São Paulo, Goiás e Minas Gerais, os preços médios ficam sempre acima dos R$18”.
Outro fator que faz com que a cana ainda seja a melhor opção para o longo prazo está no custo do processamento dentro da usina. Silvia Belém, pesquisadora da Embrapa Agroenergia explica que a produção de etanol de milho tem algumas etapas a mais, que tornam o custo mais elevado. “Por outro lado, esse custo é compensando com a produção maior de etanol por tonelada de milho”, diz.
Na Usimat, a previsão é de que entre abril e meados de novembro sejam processadas 810 mil toneladas de cana, que irão produzir algo em torno de 65,7 milhões de litros de etanol. Finalizada a moagem, no período em que a usina ficaria ociosa, será a vez dos cereais: 113 mil toneladas, produzindo cerca de 43 milhões de litros do biocombustível e 21,5 toneladas de DDG – farelo usado para ração animal. A produção do combustível a partir de cereais tem sido uma alternativa para os produtores no entorno da usina. Todo o volume processado pela Usimat é adquirido na região, sob um contrato de garantia de preço. “Estamos incentivando o plantio, pois garantimos a remuneração de até 85% do valor do milho”, diz Sérgio Barbieri.
Apesar das iniciativas, o futuro do setor sucroenergético é incerto. “Precisamos da sinalização de um cenário e de medidas de longo prazo. É preciso decisões claras sobre como vai ficar o preço da gasolina que hoje é instrumento de contenção da inflação”, diz Hollanda. Desafios não faltam. “O etanol de segunda geração também pode sepultar a necessidade de uma alternativa para complementar a cana”, diz Miranda. Ele revela ainda que nos Estados Unidos, o reinado do etanol de milho está ameaçado com a descoberta do gás de xisto, mais barato, menos poluente e com reserva abundante. “A próxima década será crucial para saber se o etanol continuará sendo um combustível viável em escala mundial, ou se ficará relegado a localidades específicas”.
Fonte: Revista Globo Rural