Frigoríficos recebem R$ 13 bi do BNDES, mas enfrentam problemas.
Sob o argumento de promover a internacionalização e reduzir a informalidade, o BNDES injetou, por da meio da compra de ações e títulos, R$ 12,8 bilhões em frigoríficos como JBS, Marfrig e Independência desde 2007. A cifra corresponde a 9% do orçamento do banco em 2014.
Além do aporte de recursos -em muitos casos para a compra e fusão com empresas do Brasil e do exterior-, o banco concedeu outros
R$ 3,2 bilhões em empréstimos ao setor desde 2009.
A ajuda, porém, não livrou de problemas algumas companhias das quais o banco se tornou sócio, como o Independência, que passa por um processo de recuperação judicial, e o Marfrig, que teve de vender sua principal marca, a Seara, ao concorrente JBS para diminuir seu pesado endividamento.
No fim de dezembro, o BNDES adiou em um ano e meio o vencimento de uma debênture (título de dívida) de R$ 2,15 bilhões do Marfrig -de junho do ano que vem para janeiro de 2017.
Para o BNDES, o apoio foi necessário porque o ramo "não era organizado, com muita pulverização [deempresas] e informalidade", o que não permitia aumentar a competitividade das empresas do setor, "relevante gerador de emprego e divisas."
O banco entrou no setor com uma injeção de capital de R$ 1,4 bilhão na JBS, destinada à compra da americana Swift, em 2007.
Foram realizadas mais três grande operações de compra de ações ou debêntures (títulos de investimento em renda fixa, que podem ser trocados por ações) do grupo JBS.
Em troca do total de R$ 8,5 bilhões aplicados em papéis do grupo, o BNDES tem uma participação de 22,9% no capital da JBS.
A Marfrig recebeu, ao todo, R$ 3,6 bilhões em recursos do banco, que detém 19,6% do seu capital. O total foi investido pelo banco (por meio de seu braço de participações, a BNDESPar) de 2007 a 2012 e supera o valor de mercado das ações da companhia em Bolsa de Valores, da ordem de R$ 2 bilhões.
De menor porte, o Independência obteve injeção de recursos de R$ 250 milhões, que conferem ao BNDES uma participação de 21,8% na companhia.
CAMPEÃS NACIONAIS
Os números vultosos e as dificuldades de alguns grupos suscitam a discussão sobre a estratégia, criada no governo Lula, de incentivar empresas "campeãs nacionais", selecionando setores que pudessem ser líderes globais.
Maurício Canedo, economista da FGV, afirma ser contrário à estratégia de eleger setores e empresas. "Não vejo ganho para a sociedade, além do retorno privado para a própria companhia. Melhor seria focar a atuação do BNDES em infraestrutura."
Para Mauro Rochlin, economista do Ibmec, escolher segmentos em que o país tem potencial e competitividade e fomentar suas empresas "não é, em tese, ruim." Muitos países, diz, adotaram essa tática com sucesso, como a Coreia, permitindo a expansão das companhias com aportes de recursos e financiamentos a baixo custo.
FONTE: UOL
PEDRO SOARES
DO RIO