Serviços públicos ruins
Waldir Guerra *
A semana passada dediquei um bom tempo na renovação da Carteira de Motorista (CNH) que estava vencendo e aproveitei também para atualizar a Carteira de Identidade; esta não estava vencida, mas fora dos padrões do Mercosul.
Que trabalheira hein! Nem tanto com a CNH que não tive maiores problemas, mas precisei fazer todos os exames obrigatórios, recolher as taxas e agora ainda preciso aguardar uns quinze dias para retirar a dita cuja.
Com a Carteira de Identidade as dificuldades foram bem maiores. Aguardar numa fila enorme num primeiro dia, apenas para saber que a Certidão de Casamento precisaria de uma fotocópia – coisa que eu mesmo deveria ter imaginado ser necessária.
Mas ao voltar no segundo dia a fila era ainda mais longa chegava quase na rua e o sol e calor castigavam muito. Somente uma pessoa para atender e além da necessidade de ter que ceder preferência às senhoras idosas, ainda havia a predileção para as jovens mães com um filho no colo – perdoem-me a desconfiança, mas algumas vezes elas realmente aplicam a “lei do Gerson”.
Uma senhora idosa vinha acompanhada do filho, Claudio Ramos, que aflito pediu um banheiro, mas o único disponível para o público estava fechado e, além disso, ainda havia duas placas na mesma porta e nelas escrito: “Banheiro feminino” e “Banheiro masculino”. Saiu apressado dali e quando voltou brinquei com ele dizendo-lhe: ainda bem que você mora perto. “Não”. Respondeu-me: “Sou de Bombinhas, mas infelizmente pra nós todos os serviços públicos são ruins mesmo”.
Naquele momento me dei conta que Francis Fukuiama, autor do livro “O fim da História”, um dos maiores best-sellers da década passada, disse isso mesmo num seminário em São Paulo na semana passada promovido pela Tendências e Consultoria. Fukuiama disse que o Brasil precisa melhorar os serviços públicos.
Ele disse que a Classe Média brasileira exige melhores serviços públicos e salientou ser essa a maior causa dos protestos que se espalham por todo Brasil e tomam até formas diferentes, como as ações dos Black Blocs.
As advertências de Fukuiama me chamaram atenção, sim, mas a ficha só caiu quando estava em pé numa fila para renovar a Carteira de Identidade. Foi lá que me dei conta que o funcionário que examinava os documentos; entregava formulários e orientava as pessoas como deveriam preenchê-los é muito bom e quem é ruim no serviço é o chefe dele que não vê a necessidade de destacar mais dois para auxiliá-lo. Não vê a necessidade de dois banheiros para um público enorme em todos os dias úteis da semana – Ops! Desculpem, só quando não estão em greve.
Foi naquele dia que também me dei conta que realmente o serviço público é ruim, mas que o buraco está mais em cima. Ele não está tão ruim dentro das repartições, mas está péssimo dentro dos gabinetes. É na incompetência daqueles que têm poder de mando que está o problema. E por quê?
Porque a grande maioria dos chefes das repartições públicas é nomeada por políticos e além de despreparados para o trabalho que exercem, na maioria das vezes, estão lá como cabos eleitorais e não como funcionários públicos.
Quando fores renovar tua Carteira de Identidade, ou Carteira de Motorista lembre que, na maioria das vezes, a culpa do mau atendimento não é do funcionário que te atende, mas dos chefes dele.
* Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário de Estado e deputado federal. E-mail: wguerra@terra.com.br